Em Braga, por estes dias, sê bracaraugustano

As ruas de Braga recuaram mais uma vez até ao século 16 a.C. Espectáculos, música e figuras mitológicas invadem o centro histórico na 13.ª edição da “Braga Romana”. Até segunda-feira, a cidade volta ao tempo de César Augusto.

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Diz-se que em Roma se deve ser romano. Em Braga, sê bracaraugustano. A 13ª edição da “Braga Romana” começou na quinta-feira e a cidade saltou para os livros de História e recuou a 16 a.C., data em que Bracara Augusta foi fundada pelo imperador César Augusto. Tendas de artíficies e bancas de iguarias estendem-se pelas ruelas decoradas pelas bandeiras vermelhas de um reino onde cada um se sente um verdadeiro cidadão romano. Uma “festa bonita”, diz quem passa, e uma animação não só para os miúdos, mas também para os graúdos.

No dia em que o S. Pedro deu tréguas, foram milhares as pessoas que invadiram a cidade para uma viagem pelas cores, sabores e sons da civilização romana. E há quem a faça desde o início. José Torres foi um dos fundadores da Braga Romana. Um projecto que a Associação de Artesãos da Região do Minho apresentou à Câmara Municipal. Atarefado a rechear pães com chouriço, um dos ex-libris gastronómicos da feira, José Torres conta que o que mais importa “é ir às raízes e ao passado e dar ênfase ao que foi a romanização”. É também a razão pela qual Ana Luísa Barroso vem da Póvoa de Lanhoso para visitar a feira. A professora faz questão de trazer os filhos para lhes mostrar “como as pessoas se vestiam, como é que comiam e a forma como se defendiam”, diz, enquanto Santiago e Eduardo se divertem com as espadas de madeira. 

Envolver as crianças com o ambiente da feira pode ser feito nas várias oficinas, como a tenda pedagógica e a Escola Romana, onde podem brincar com jogos romanos de tabuleiro, e participar em oficinas de olaria, mosaico romano, máscaras de teatro, escrita ou bijuteria.

A Escola Romana tem sede na Escola Básica S. João do Souto. Sandra Magalhães está a servir os clientes no Res Cibaria (restaurante). Membro da Associação de Pais, Sandra participa na Braga Romana há três anos. Sopas de grão com espinafres, moelas, bifanas, bolos caseiros alusivos à época romana e limonadas são algumas das iguarias servidas, numa participação que pretende “angariar alguns fundos para fazer actividades ao longo do ano”, explica. 

As ruas estão preenchidas por milhares de pessoas que são agora forçadas a “abrir alas ao imperador Pedro”, talvez o mais jovem da história, transportado por um servo, num carrinho artesanal que é uma atracção para os mais pequenos. 

Telemóveis proibidos
Centenas de tiaras de flores coloridas adornam a barraquinha que Juliana Moreira tem na Braga Romana há nove anos. “Participei num projecto chamado ‘Mulheres Empreendedoras’”. A partir daí, decidiu criar o seu negócio a pensar nas “mulheres romanas mais simples que adornavam os cabelos com flores”, refere. Sobre a organização do evento, Juliana considera que “é uma feira com muito critério para se entrar”: “Têm de ser mercadores que tenham espírito e queiram retratar a Roma Antiga”. Não são permitidos relógios nem telemóveis à vista, para não pôr em causa o retrato da época. Só assim é que “as crianças vão conseguir entender a história, se estiver fiel”, conclui.

À medida que se percorrem as artérias da cidade, actuações com bombos e gaitas de foles despontam em qualquer lugar e captam a atenção dos turistas que espontaneamente respondem com palmas e cânticos que envolvem os artistas. Passeiam-se as plebeias em direcção à rua do oculto, onde um intenso cheiro a incenso impera. Aqui, “só acredita quem quiser” mas, “não vá o diabo tecê-las”, há quem não resista a saber o que o destino lhe reserva ou quem foram numa vida passada. “Vais pagar 5 euros para te dizerem que foste um animal”, brinca alguém. 

Rosália Passinhas, coreógrafa de uma companhia, participa na feira há cinco anos, “sempre com peças diferentes”, que misturam o canto, o ballet clássico e a dança moderna, e “sempre baseadas na mitologia greco-romana”. Este ano, a companhia apresenta As Sombras de Circe, uma peça sobre o mito de Pico, Circe e Canente, a musa da música. “Circe poderia  ser uma personagem secundária mas neste caso decidimos mostrar as suas facetas, porque as bruxas não são frustradas. Também já tiveram amores e, por isso, se calhar, é que são bruxas”, conta Rosália. 

A chegada da Legião a Bracara Augusta é um dos momentos que mais prende a atenção do público. José Gonçalves é legionário por seis dias com mais 24 membros da Equipa Espiral. Há nove anos começaram com uma taberna. “Agora, em vez de trabalhar muito, divertimo-nos muito”, confessa José Gonçalves. Um trabalho que começa com quatro meses de antecedência para ensaiar coreografias, fazer os figurismos, as armaduras de metal, onde “tudo é feito à mão”. Seis dias em que alguns dos legionários “metem férias”.
Para o artesão Mário Talaia, o evento serve para mostrar aos mais pequenos “os brinquedos mais antigos”. “Infelizmente as crianças utilizam muito o tablet, o telemóvel e os pais e os avós aproveitam estes momentos para dar a conhecer um pouco aquilo que faziam”, reconhece. 

Durante os seis dias de festa na cidade, alguns negócios locais aderem à iniciativa e vestem-se a rigor. Graça, da típica Casa das Bananas, faz questão de pôr uma banca à frente da loja, na Rua do Souto. E arrisca a dizer que “é melhor do que o S. João”. Agora com 77 anos, Graça foi uma das pessoas que abriu o primeiro cortejo do evento, há 13 anos. “E vestíamo-nos a rigor. Um ano levava uma travessa cheia de uvas, outro ano cheia de rebuçados. Nunca ia igual, de manhã vestia uma farda, à noite já tinha outra”, conta.
Restam mais três dias de festa que vão incluir diversas atracções.

Restam mais três dias de festa que vão incluir diversas atracções. Este sábado, pelas 10h, vai decorrer uma visita guiada à Braga Romana e aos locais arqueológicos da cidade para pessoas com mobilidade reduzida. Às 16h30, o curso de Arqueologia da Universidade do Minho organiza “O Caminho das Pedras” pelos edifícios e pavimentos das praças que contém vestígios arqueológicos. Às 21h30, a Praça Municipal vai receber um casamento romano. No domingo, à meia-noite, Alea Jacta Est (os dados estão lançados) num espectáculo de fogo, dança e acrobacia. A edição 2016 da Braga Romana termina na segunda-feira com o cortejo “Ludi Litterarii”, que geralmente abre as festividades, no qual participam as crianças das escolas de Braga. 

Texto editado por Ana Fernandes

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