Donos da Solmar garantem que a cervejaria não vai fechar

Receio de que mais um símbolo da Baixa lisboeta estivesse condenado espalhou-se na Internet. Mas os proprietários dizem que a Solmar fechou apenas para férias e obras.

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Fotos Rui Gaudêncio
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O longo rol de velhas casas comercias que estão a desaparecer da cidade, fazendo muitos lisboetas sentirem-se estrangeiros na sua terra, não foi esta semana aumentado com mais um nome de respeito. A Solmar, na Rua das Portas de Santo Antão, não vai desaparecer, ao contrário dos presságios de mau agoiro que se propagaram nos últimos dias nas redes sociais. Essa é, pelo menos, a garantia dada pelo director do Garden Hotel, um estabelecimento detido por um dos proprietários da emblemática cervejaria, ali a dois passos, na Rua do Jardim do Regedor.

Luis Marques, em nome do gerente e sócio da Solmar António Pedro Paramés, assegurou esta sexta-feira ao PÚBLICO que a verdade está escrita no aviso afixado no exterior do estabelecimento: “Encerrado para férias.” Segundo a mesma fonte, a cervejaria estará fechada um mês, período durante o qual serão feitas algumas obras de conservação. “Vai reabrir exactamente como está [no aspecto arquitectónico], mas com melhores condições para servir devidamente os clientes”, afirmou Luis Marques.

O PÚBLICO não conseguiu chegar à fala com António Pedro Paramés, um dos herdeiros dos dois irmãos de origem galega que em 1956 fundaram a casa, no piso térreo da sede do Ateneu Comercial de Lisboa. No entanto, o seu colaborador e sócio desmentiu todos os rumores sobre um eventual fecho definitivo. A família Paramés acumulou durante o século passado um importante património na Baixa, com vários restaurantes, hotéis e imóveis, e ainda hoje controla numerosas empresas em diferentes sectores de actividade. No caso da Solmar, a decadência que a atingiu fez cair os as suas vendas para 372 mil euros em 2013 (menos 22% do que no ano anterior) e os resultados líquidos para menos 66.500 euros. 

A cervejaria da Rua das Portas de Santo Antão tornou-se um dos ex-libris da cidade não só pelos mariscos que trazia dos viveiros que possuia no mar do Guincho, mas também, e sobretudo, pela sua arquitectura e decoração. Na sala avultam um grande painel em azulejos da autoria de José Pinto e o mobiliário dos Móveis Olaio, desenhado por José Espinho.

Os próximos meses dirão se este fecho ajudará a Solmar a renascer, ou se antecipará aquilo que muitos receiam: que também ela seja devorada pelos apetites e modas que estão a transformar a Baixa num sítio que faz vagamente pensar em Lisboa. 

O temores de que este último cenário se concretize são reforçados pela situação em que se encontra o Ateneu Comercial, uma colectividade com 135 anos que foi declarada insolvente em 2012. Segundo tem sido noticiado, a intenção dos credores tem a ver com projectos imobiliários relacionados com o edifício, que não é classificado, e com os terrenos dos seus jardins, que sobem pela colina de Santana.

Embora o rés-do-chão pertença à empresa proprietária da cervejaria e não ao ateneu, o facto (não confirmado pelo PÚBLICO) de os seus donos possuirem terrenos nas traseiras, encosta acima, faz com que alguns comerciantes locais sorriam quando ouvem falar nas férias da Solmar,

Joaquim Carracha, um alentejano que há muito explora um restaurante do outro lado da rua, não sabe o que é que vai acontecer, mas espera que os vizinhos não desistam da restauração. “Até para nós é mau aquilo estar fechado e tudo apagado à noite. E com as grades até parece uma cadeia.”

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