Diálogo com comunidade escolar vale prémio europeu à Câmara do Porto

Comissão Europeia avaliou positivamente projecto-piloto para melhorar trânsito junto às escolas em Guerra Junqueiro.

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Acções de sensibilização tentaram reduzir os estrangulamentos de trânsito junto às escolas FERNANDO VELUDO/NFACTOS

A Câmara do Porto vai receber em Setembro um prémio Civitas, da Comissão Europeia, pelo projecto-piloto de mobilidade em zonas escolares, levado a cabo, no último ano lectivo, na envolvente da Rua de Guerra Junqueiro, à Boavista. A zona é um ponto de conflitos de tráfego, associados às deslocações de centenas de alunos para os três estabelecimentos ali existentes, mas o reconhecimento europeu não deriva das medidas entretanto impostas a quem anda de carro, mas sim do trabalho de diálogo e da participação das escolas e, acima de tudo, dos encarregados de educação.

É fácil de ver, na rua, o resultado do projecto-piloto de gestão da mobilidade levado a cabo pela Câmara do Porto na Rua de Guerra Junqueiro, onde a câmara criou, em Maio, lugares de estacionamento de curta duração (onde é possível parar dez minutos), mexeu no sentido de uma das ruas circundantes, eliminou duas paragens da STCP consideradas redundantes e reforçou a sinalização vertical e horizontal existente. Mas essas são as chamadas medidas duras, decorrentes do poder que a Câmara tem sobre o espaço público. E não foi para isso que o júri do Civitas esteve a olhar.

A vereadora da mobilidade da Câmara do Porto, Cristina Pimentel, admite a fragilidade da intervenção municipal naquela zona, como noutras, perto de escolas, onde vai ser preciso mexer para melhorar a circulação viária nas horas de ponta da manhã e da tarde. Por muito que se altere a sinalização, se melhore a visibilidade das passadeiras ou se coloquem pilaretes a impedir estacionamento indevido ou a dissuadir a paragem em segunda fila, tudo pode tornar-se inútil sem a adesão dos condutores – que neste caso são encarregados de educação. E foi neste “trabalho invisível” que técnicos do município e a comunidade escolar estiveram envolvidos no último ano, na tentativa de alterar comportamentos.

Os três estabelecimentos existentes nesta zona têm cerca de 850 alunos, e apesar dos graus diferentes de empenhamento na realização de um inquérito à mobilidade e na discussão das medidas – Cristina Pimentel elogia o envolvimento do Colégio Alemão, que cedo percebeu as vantagens da iniciativa municipal – percebe-se, no dia-a-dia em tempo de aulas, que a maioria deles se desloca para as aulas de carro. Para além das infracções, e do congestionamento da circulação nesta rua que liga o Campo Alegre à Boavista, a confluência de automóveis nos picos diários de início/fim das aulas deu também origem a um número anormal de atropelamentos que o projecto tenta evitar.

No Colégio Alemão, onde se verificou que "89% dos alunos vão de carro e que, desses 89%, 36% vivem a menos de três quilómetros da escola", a direcção do estabelecimento está a sensibilizar os pais para que uns transportem os filhos de amigos ou vizinhos, num sistema de car-pooling. Enquanto isso, o município identificou zonas na envolvente – a poucas centenas de metros, nota Cristina Pimentel – onde há mais facilidade de estacionamento, e está a propor aos pais que parem nesses locais, fazendo a pé os últimos metros do percurso até à escola, em “percursos seguros”. “É uma forma de as crianças conhecerem aquela zona da cidade”, assinala a vereadora, assumindo que vai ser preciso continuar a fazer este tipo de sensibilização, "porque hábitos enraizados não se mudam de um dia para o outro".

Neste projecto falta ainda pôr em prática uma rede de transporte escolar, que há-de ser testada neste novo ano lectivo, mas não a partir de Setembro, admite a vereadora. O desenho da rede, que o município encomendou ao CEIIA – Centro de Excelencia e Inovação para a Indústria Automóvel – vai servir outros estabelecimentos, na envolvente à Avenida da Boavista, mas não há ainda condições para pôr o serviço em prática, admite. Entretanto, a Câmara do Porto vai fazer com outras escolas de maiores dimensões – Como a Fontes Pereira de Melo, a  ou a Clara de Resende – um trabalho de auscultação, semelhante ao que lhe valeu, agora, o prémio Civitas, para tentar perceber as melhores soluções para cada uma das comunidades escolares em questão.   

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