Depois do burro e do Ferrari, as bicicletas. PSD-Lisboa volta a gerar polémica

Para criticar a falta de mobilidade em Lisboa, a concelhia do partido divulgou um vídeo onde diz existirem ciclovias a mais face aos utilizadores que as procuram. Mas, tal como em Novembro quando tentou organizar uma corrida entre um burro e um Ferrari, a iniciativa levantou sobretudo polémica.

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Lisboa conta com 60 quilómetros já construídos e 150 em construção até 2017 Rui Gaudêncio

Um protesto do PSD-Lisboa contra medidas tomadas pela Câmara a favor das bicicletas reuniu, em poucas horas, uma avalancha de críticas. Um vídeo, publicado esta quinta-feira na página do Facebook e acompanhado de um comunicado assinado por Mauro Xavier, presidente da concelhia, defendia que “numa cidade com sete colinas, a questão da mobilidade não passa pela construção desenfreada de ciclovias”. O desagrado não tardou e centenas de comentadores apontaram baterias à posição social-democrata.

No vídeo, o PDS-Lisboa considera excessivos os investimentos feitos nos 210 quilómetros da rede de mobilidade ciclável da capital – que inclui ciclovias e vias partilhadas por ciclistas e automobilistas, e conta com 60 quilómetros já construídos e 150 em construção até ao próximo ano. Isto porque, após observar duas ciclovias, a da praça de Espanha e a dos Olivais, no período diurno durante cinco dias, através de duas câmaras, constatou que o movimento em ambas – de apenas cinco bicicletas no período analisado, segundo a concelhia – não é suficiente para justificar a sua existência.

“O vídeo que lançámos hoje não é sobre bicicletas. É sobre prioridades”, lê-se no comunicado, que também critica que nos últimos anos se tenham gasto “milhões a construir estradas para bicicletas e a comprar bicicletas”. Em contrapartida, afirmam, a mobilidade está cada vez pior em Lisboa. “Circular na cidade nunca foi tão doloroso e os transportes públicos nunca estiveram pior. Entre obras, engarrafamentos, alterações semanais de sentido e desinvestimento nos transportes públicos, a cidade nunca esteve pior”. As críticas continuam, passando para os impostos pagos pelos lisboetas que “não têm acesso a um simples bilhete de metro” e “continuam sem estar servidos por um autocarro"..

A MUBi, Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta, veio lamentar “a visão retrógrada e a falta de rigor exposta pelo PSD-Lisboa no vídeo publicado”: “Pela mesma razão que as primeiras estradas tinham muitas bicicletas e poucos carros, e levou décadas a inverter essa situação, só o tempo e alguma coragem política levarão a que a cultura de insegurança seja ultrapassada e o estatuto da bicicleta seja de novo potenciado”. Alertando ainda para o incremento da utilização das bicicletas nos últimos dez anos, apela ao PSD-Lisboa e às restantes forças partidárias “que despolitizem a crescente utilização da bicicleta, encarando-a como um facto consensual cuja única discussão política se deverá centrar na forma mais eficaz de fazer com que esse crescimento ocorra e continue a favorecer a mobilidade, a qualidade de vida e a economia da cidade de Lisboa”.

Por seu lado, o gabinete do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) respondeu ao PÚBLICO que “não há muito que se possa acrescentar às centenas de comentários que surgiram na sequência da publicação do referido vídeo, nem à indignação manifestada contra o mesmo". E acrescentou: "A criação de condições que promovam os modos activos, andar a pé e de bicicleta, é um dos objectivos da Câmara de Lisboa. As reacções ao vídeo vêm demonstrar que é esse o caminho que se deve prosseguir”. Também Duarte Cordeiro, vice-presidente da CML, mostrou o seu desagrado através de uma publicação, também na sua página do Facebook, que inclui uma fotografia antiga em que se vê o Terreiro do Paço cheio de carros, com a legenda “O PSD é contra mais ciclovias e o CDS é contra a aquisição de mais autocarros para a Carris. A sua proposta só pode ser esta”. A publicação também contou com centenas de “gostos” e vários comentários de apoio.

Ainda assim, o PSD-Lisboa ainda afirmou, no comunicado, não ter nada contra as bicicletas e ciclovias e estar sim a defender a mobilidade “de todos, mesmo daquela esmagadora maioria que, por uma razão ou por outra, não se pode dar ao luxo de andar diariamente de bicicleta”. “

Os 150 quilómetros adicionais de ciclovias e vias compartilhadas devem estar concluídos no primeiro semestre do próximo ano, com a intenção de “unir a cidade inteira” e oferecer a todos os que queiram deslocar-se de bicicleta uma rede com “condições de segurança”.  

Esta não é a primeira polémica que envolve recentes campanhas da concelhia do PSD já com o objectivo das autárquicas do próximo ano: No princípio de Novembro, o partido tentou organizar uma corrida entre um burro e um Ferrari, reproduzindo uma iniciativa idêntica que António Costa levou a cabo na sua candidatura à Câmara de Loures, em 1993. Na altura, a corrida realizou-se, mas, desta vez, choveram críticas de utilizadores das redes sociais e de associações defensoras dos animais. A reprovação feita pela provedora dos Animais da câmara acabou por levar ao seu cancelamento.

Mas Mauro Xavier não se mostra procupado: “O vídeo é polémico? Ainda bem. Pode ser que assim se discuta a mobilidade”.

Texto editado por Ana Fernandes

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