Da Cantareira à Baixa, da Baixa a Campanhã, a Cultura em Expansão está de volta

Programa conta com música, cinema, dança, teatro e muitas parcerias. A vontade da autarquia é que o programa “se cimente” em territórios já explorados – como o Bairro da Pasteleira, onde tem marcado presença desde o primeiro dia – e explore novas geografias, como será o caso da Cantareira.

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O projecto Oupa! vai ganhar uma nova casa Paulo Pimenta

O programa Cultura em Expansão da Câmara do Porto regressa à cidade a 25 de Abril, abrindo-se a novos territórios e desenvolvendo novos projectos. Alguns são “um risco”, assumem os responsáveis pela Cultura na autarquia, mas ele é assumido e a expectativa é que a 3.ª edição envolva ainda mais pessoas do que as duas anteriores. A Cantareira junta-se aos lugares a explorar e o projecto Oupa! ganha uma nova casa. Tudo até Dezembro.

Gisela João vai à sede da Associação de Moradores da Bouça deixar que as suas músicas ganhem uma nova dimensão, conferida pela cenografia de José Capela, da Mala Voadora, e com a colaboração dos moradores do bairro desenhado por Álvaro Siza. É assim que arranca o Cultura em Expansão, programa idealizado por Paulo Cunha e Silva (o vereador da Cultura que morreu no ano passado) e que o seu pelouro, agora sob a alçada do presidente Rui Moreira, está a continuar. E, tal como na edição do ano passado, a vontade da autarquia é que o programa “se cimente” em territórios já explorados – como o Bairro da Pasteleira, onde tem marcado presença desde o primeiro dia – e explore novas geografias. Por isso, a apresentação do calendário da 3.ª edição decorreu na Associação Recreativa de Malmequeres da Noêda (um dos novos palcos deste ano) e por isso também é que a Cantareira vai receber algumas iniciativas.

Guilherme Blanc, adjunto de Rui Moreira para a Cultura, dividiu a programação em quatro grandes áreas – Laboratórios, Música, Cinema e Clubismo, e Teatro e Dança – que vão estender-se um pouco por toda a cidade. O Oupa!, por exemplo, estende-se para o Bairro de Ramalde de Meio, com os mesmos responsáveis pelo projecto que ganhou raízes no Bairro do Cerco do Porto, e contando agora com a colaboração dos participantes nesse primeiro projecto. Tal como na edição anterior, o resultado deste trabalho de seis meses será apresentado no Teatro Rivoli.

Pelo palco do teatro municipal irá passar também tudo o que a realizadora Salomé Lamas irá conseguir criar durante a residência artística de dois meses que irá fazer na cidade, e que inclui o desenvolvimento de um workshop de vídeo envolvendo os utentes do Centro Educativo Santo António e a concretização de uma curta-metragem “exploratória das paisagens da cidade”, explicou Guilherme Blanc.

O cinema estará no Cultura em Expansão com a continuação do Nove e Meia – Cineclube Nómada, que entre 13 de Maio e 3 de Dezembro irá levar sessões de cinema aos bairros do Falcão, Mouteira, Lomba e Pasteleira, e cruza-se com uma outra iniciativa que é já uma transição para o programa musical. Entre Setembro e Dezembro, o Auditório do Centro Paroquial de Aldoar irá receber um conjunto de obras, incluindo Maria do Mar, de Leitão de Barros e O Navegante, de Buster Keaton, musicadas ao vivo por diferentes intérpretes, incluindo os alunos da ESMAE. São filmes ou excertos de filmes musicados ou, como descreve Guilherme Blanc, “um conjunto de concertos acompanhados por imagens”.

A junção de duas artes é uma constante na edição deste ano, e vai passar também pela união da música com as artes plásticas, numa experiência designada A Cada Um a Sua Música. É aqui que se insere o concerto de Gisela João e é também aqui que encontraremos Pedro Burmester a tocar na Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira – Previdência/Torres, a 18 de Junho, num concerto que contará com cenografia de Mónica Baptista; ou B Fachada a tomar conta do palco da Associação Recreativa de Malmequeres da Noêda, transformado pela imaginação de Catarina Barros (9 de Julho). Há outras parcerias nesta categoria, mas uma das mais arriscadas – o tal risco de que falavam Rui Moreira e Guilherme Blanc no início da apresentação – é o resultado da reinterpretação de temas da banda rock Glonckenwise que a Orquestra Juvenil da Bonjóia irá fazer, e que vai contar com cenografia de Ana Pérez-Quiroga.

A Cantareira irá receber uma das parcerias de A Cada Um a Sua Música (a Banda Marcial da Foz do Douro com Jonathan Saldanha e coreografia da companhia Circolando) e o projecto Espírito do Lugar 2.0, que a Circolando dedica este ano a esta zona da cidade, explorando histórias e percursos entre os Pilotos da Barra e o Bairro Rainha D. Leonor.

Pela cidade vai andar também o Arquipélago – O Mundo é Redondo “uma peça operática” que durante três fins-de-semana consecutivos vai animar seis bairros diferentes da cidade. E a festa não ficava completa sem o envolvimento do Bairro da Sé, no centro histórico do Porto. É por lá que, em Julho, durante uma semana, a Casa Conveniente/Zona Não Vigiada vai desenvolver um workshop envolvendo actores e não actores. Estes, “durante o dia desenvolvem um trabalho intensivo, para à noite apresentarem um espectáculo”, lê-se no programa. Rifar Meu Coração é o nome do projecto que pretende recolher depoimentos, músicas e histórias dos moradores do bairro.

Rui Moreira diz que ainda é cedo para avaliar o impacto do Cultura em Expansão nas zonas por onde vai passando, mas está optimista. “O primeiro barómetro é a adesão”, diz, e essa tem corrido bem. Há mesmo projectos, como o Oupa!, que o deixam convicto de que “não vai morrer facilmente”. Para já, contudo, ainda é tempo de “pôr pólvora no rastilho, para que este continue a funcionar”, reclama. E continuar a encontrar novos locais onde colocar um palco. “Estamos disponíveis para sermos confrontados com novos territórios”, diz, em modo de apelo. 

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