Contra o buzinão, ciclistas fazem protesto silencioso no Marquês de Pombal

Os utilizadores de bicicleta estão contra quem quer "manter as coisas como estão" no Eixo Central, mas não deixam de fazer críticas à Câmara de Lisboa.

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Às 18h30 desta terça-feira, um grupo de utilizadores de bicicleta vai fazer um "passeio silencioso" pelo Eixo Central Daniel Rocha/Arquivo

Um grupo de utilizadores de bicicleta vai promover às 18h30 desta terça-feira, no Marquês de Pombal, em Lisboa, um “passeio silencioso” em protesto contra o buzinão agendado para a mesma hora.

A iniciativa foi dinamizada através das redes sociais e aquilo que está previsto é que os ciclistas percorram o chamado Eixo Central, com partida do Marquês de Pombal. “Em silêncio”, frisa ao PÚBLICO João Bernardino, explicando que a ideia é “vincar a diferença” em relação ao buzinão que foi convocado no final da semana passada contra as obras que a Câmara de Lisboa está a realizar no local.

“Aquilo que essa manifestação pretende é manter as coisas como estão. E a situação actual é péssima para quem se desloca de bicicleta para o trabalho ou para ir levar os filhos à escola”, afirma o economista, que pertence à direcção da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mubi). “Existem muitas pessoas ansiosas por ver uma melhoria”, garante.

Quanto ao projecto que vai ser executado no Eixo Central, entre o Marquês de Pombal e Entrecampos, João Bernardino lamenta “a opção tomada à última hora pela câmara, sem qualquer discussão pública e sem o envolvimento dos utilizadores de bicicleta”. Em causa está o facto de, dias antes ao arranque da empreitada, ter sido divulgado que afinal as duas ciclovias previstas iam ser substituídas por apenas uma, bidireccional, com o objectivo de garantir um maior número de lugares de estacionamento à superfície.

“Não se troca a segurança das pessoas por mais lugares de estacionamento à borla para uns poucos”, condena o economista, que fala numa “troca nada aceitável”.

Para justificar a crítica, João Bernardino sublinha que “as ciclovias bidireccionais em meio urbano de um modo geral são perigosas”, tratando-se de “uma opção que foi abolida há décadas” na maior parte das cidades. Mas são “inseguras” porquê? Essencialmente, diz, porque “os automobilistas não estão à espera de ver ciclistas a aparecer dos dois lados”, situação que “aumenta o risco de acidente”.

Recentemente a Mubi enviou uma carta ao presidente da câmara sobre o projecto de requalificação do Eixo Central, na qual lamenta “a decisão de última hora de sacrificar os utilizadores de bicicleta”.

“A Mubi considera inaceitável que se joguem com vidas humanas em troco de cedências políticas que, ainda por cima, contradizem a estratégia de mobilidade sustentável que o autarca pretende defender para a cidade”, diz-se nessa missiva endereçada a Fernando Medina, na qual se fala na opção por uma ciclovia bidireccional como uma “solução potencialmente perigosa”.

Como exemplo disso mesmo, os membros da associação constatam que na Avenida Duque d’Ávila tem havido “diversos acidentes no cruzamento com a Avenida da República”, situação que em seu entender “já deveria ter dado à câmara o exemplo prático em Lisboa deste perigo”.

O movimento Lisboa - Estaleiro Eleitoral já reagiu na sua página de Facebook, dizendo-se “surpreendidos com esta intenção […] uma vez que este é um protesto de lisboetas que não concordam com o modo como a CML conduz a sua política para a cidade, sem ouvir ninguém”.

“Não estamos e nunca estivemos contra as ciclovias ou a utilização de bicicletas na cidade de Lisboa”, sublinha o grupo que organiza o buzinão. O movimento afirma ainda que se trata de “uma mera manipulação [...] tentando virar lisboetas contra lisboetas”. O grupo reforça também que o protesto é pacífico e pede a todos aqueles que se querem associar que o façam “sem bloquear a zona”, circulando normalmente.

Notícia actualizada às 16:13: Acrescenta informação

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