Concurso de ideias para o jardim da Praça do Império foi aprovado

A oposição critica a iniciativa da Câmara de Lisboa. PSD e CDS defendem a manutenção dos brasões das ex-colónias e o PCP mostra-se preocupado com o futuro da mosaicocultura.

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O júri do concurso para a "renovação" do jardim em Belém vai ser presidido por Simonetta Luz Afonso Rui Gaudêncio/Arquivo

Com um ano de atraso face ao que tinha sido anunciado, a Câmara de Lisboa aprovou o lançamento de um concurso de ideias para a “renovação” do Jardim da Praça do Império, em Belém. Os vereadores da oposição não poupam críticas à iniciativa, que consideram que “não faz sentido”, que constitui “uma perda de tempo” e que pode levar ao “desaparecimento da mosaicocultura”.

A polémica em torno do Jardim da Praça do Império estalou no Verão de 2014, quando se soube que o vereador da Estrutura Verde pretendia acabar com as oito composições florais que reproduziam os brasões das ex-colónias, por considerar que estavam “ultrapassadas”. “Há muito que não existem, nem sequer como arranjos florais no local”, alegou na altura José Sá Fernandes, segundo quem “há cerca de 20 anos que estes elementos não eram intervencionados”. A sua proposta era que os restantes 24 brasões, das cidades de Portugal Continental, da Cruz de Cristo e da Cruz de Avis, fossem recuperados.

Face às muitas vozes de descontentamento que se fizeram ouvir, o vereador acabou por anunciar que ia ser lançado, “até ao final do ano” de 2014, “um concurso de ideias para a renovação deste espaço verde”. A concretização dessa iniciativa foi sendo sucessivamente adiada até que esta quarta-feira foi finalmente submetida à apreciação da câmara uma proposta nesse sentido, assinada por Sá Fernandes e por Catarina Vaz Pinto, vereadora com o pelouro da Cultura.

A proposta, que fixa em 60 dias o prazo para a apresentação de propostas e que indica Simonetta Luz Afonso como presidente do júri, foi aprovada apenas com os votos favoráveis da maioria. Os eleitos do PSD e do PCP votaram contra e o do CDS absteve-se.

“Este concurso é uma perda de tempo e um desperdício de recursos”, afirma o vereador António Prôa. Para este autarca social-democrata “a câmara devia respeitar a imagem e a identidade do espaço e simplesmente recuperar aquilo que lá estava”, em vez de fazer “o disparate” de introduzir modificações no Jardim da Praça do Império.

“Não faz sentido absolutamente nenhum o concurso”, diz por sua vez João Gonçalves Pereira, do CDS. “Se a câmara tivesse reabilitado o que lá estava tínhamos ganho um ano”, diz o vereador, que vê este caso como ilustrativo da necessidade de o município apostar na formação de jardineiros, e já agora de calceteiros.

Já Carlos Moura, do PCP, não assume uma posição taxativa quanto à manutenção dos brasões das ex-colónias, embora vá dizendo que “a história é algo que existe e que não podemos mudar”. A maior preocupação do vereador é que este caso contribua para “o desaparecimento da mosaicocultura”, a arte de modelação de espécies vegetais em canteiro.

Na reunião desta quarta-feira, que decorreu à porta fechada, foram aprovadas duas propostas referentes ao Parque Florestal de Monsanto. Uma tem a ver com o lançamento de um concurso para a exploração de um restaurante no Monte das Perdizes, onde no passado funcionou um campo de tiro a chumbo, e outra com a instalação de um hostel na Quinta da Pimenteira.  

Se a aprovação da primeira foi pacífica, o mesmo não se pode dizer da segunda, relativamente à qual foram muitas as dúvidas levantadas. António Prôa entende que “não ficou absolutamente claro” que o espaço não se irá tornar num “condomínio turístico privado”, enquanto Carlos Moura está preocupado com o futuro do viveiro municipal que ainda hoje funciona na Quinta da Pimenteira. Por fim, João Gonçalves Pereira considera que faltam respostas para a questão do estacionamento, atendendo a que vai nascer no local um hostel com 88 camas e um restaurante com uma área de mil m2, entre outras valências.   

Proposta do ISCTE para construir hotéis adiada

A discussão do Pedido de Informação Prévia do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa para construir três edifícios, entre os quais dois hotéis, na Avenida das Forças Armadas foi adiada, mas sabe-se já que a proposta foi recebida com grandes reservas pela oposição.

António Prôa, do PSD, confessa que vê como “muito estranha” a ideia de uma instituição de ensino superior querer dedicar-se ao negócio da hotelaria. “Há aqui qualquer coisa que não joga bem”, diz por sua vez o comunista Carlos Moura, que considera que a proposta apresentada pelo vereador do Urbanismo (que não esteve presente na reunião camarária desta quarta-feira) carece de explicações.

Também adiada foi uma proposta que previa a construção de um jardim de infância em Carnide, na Quinta do Bom Nome. Segundo o centrista João Gonçalves Pereira, esta obra (orçada em cerca de 1,6 milhões de euros) tinha um custo de “qualquer coisa como 1300 euros por m2”. Esse valor causou estranheza ao vereador, que notou que numa outra proposta relativa à construção de uma escola básica com jardim de infância no Parque das Nações (também apreciada nesta reunião e com um custo estimado de 3,8 milhões de euros) o valor por m2 não ia além dos 800 euros.

Depois de o CDS e o PSD terem questionado a maioria sobre a diferença entre os dois valores, o presidente da câmara acabou por determinar que a proposta fosse retirada. Segundo relatos de vários dos presentes na reunião, Fernando Medina não terá ficado “confortável” com a discrepância entre as duas obras.   

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