Concentrações de poluente devido a incêndio de Setúbal chegaram ao Porto

Departamento da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa avaliou trajecto do dióxido de enxofre.

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LUSA/RUI MINDERICO

Concentrações do poluente dióxido de enxofre acima do habitual, devido ao incêndio numa fábrica, em Setúbal, chegaram até ao Porto, mas os níveis estão a voltar ao normal, disse nesta quarta-feira uma investigadora.

"Verificou-se que, em determinadas horas, após o início do incêndio nas instalações da Sapec, foram registados níveis bastante mais elevados do que aqueles considerados normais em várias estações" de medição da qualidade do ar, explicou à agência Lusa Joana Monjardino.

A cientista do departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa apontou que esses aumentos de concentrações "ocorreram em localidades sucessivamente mais afastadas da origem e chegaram até à região Norte, em Alverca, na Chamusca, em Ílhavo e até em estações da região do Porto".

Os picos de concentração de dióxido de enxofre "iam ocorrendo nestas várias regiões em períodos curtos no tempo, em uma hora, duas ou três, mas depois diminuíam", realçou. "Hoje de madrugada, entre as 2h00 e as 4h00, houve um aumento de concentrações na zona do Seixal, Barreiro, valores que depois voltaram a baixar e não há perigo ou valores que possam causar preocupação", disse ainda a investigadora.

O incêndio deflagrou na terça-feira, às 3h00, em dois armazéns com enxofre da Sapec Agro, em Mitrena, Setúbal, foi controlado, mas as operações de rescaldo deverão prolongar-se por vários dias.

Aquele departamento da Faculdade de Ciência e Tecnologia e o Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade (Cense) da Universidade Nova de Lisboa analisaram os dados de monitorização da rede oficial de qualidade do ar recolhidos pelas comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR) e disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e usaram um modelo de simulação a partir das condições meteorológicas verificadas na terça-feira para a avaliar o impacte do incidente.

"Há níveis um bocadinho mais elevados do que é normal porque há muito tempo que não há problemas para este poluente e qualquer emissão mais elevada de dióxido de enxofre ou poluentes relacionados vai notar-se nas concentrações das estações", explicou a investigadora, após análise das concentrações.

O valor-limite fixado pela legislação europeia e nacional é de 350 microgramas por metro cúbico durante uma hora. "Houve estações onde ocorreram concentrações de 400 microgramas ou até de 700 microgramas, hoje de manhã, em Paio Pires, bastante acima do valor-limite", mas o limiar de alerta é de 500 microgramas por metro cúbico num período mínimo de três horas consecutivas e "não foi ultrapassado em qualquer das estações analisadas", disse ainda Joana Monjardino.

Hoje, as empresas Sapec Química, Boat Center e Sopac, da zona industrial da Mitrena, em Setúbal, suspenderam a sua actividade por aconselhamento da Protecção Civil, devido à coluna de fumo provocada ainda pelo incêndio.

A combustão de enxofre origina dióxido de enxofre, que causa irritação dos olhos e problemas de ordem respiratória, como irritação das vias respiratórias superiores, nariz e garganta. Pode também causar lesões a nível pulmonar, tosse e broncoconstrição e potenciar os efeitos de doenças cardiovasculares e respiratórias, como, por exemplo, a asma.

As crianças, idosos e pessoas com problemas pulmonares e cardiovasculares são as mais sensíveis aos efeitos.

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