Coimbra vai criar Via Central nos terrenos por onde iria passar o Metro Mondego

Intervenção pretende ocupar zona aberta pelas demolições do Metro Mondego que tiveram início em 2005. Vai permitir circulação automóvel, uma opção criticada pela oposição.

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Desde as demolições que os terrenos estavam devolutos
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Desde as demolições que os terrenos estavam devolutos Adriano Miranda

A Câmara Municipal de Coimbra vai preencher os terrenos que resultaram das demolições para a passagem do Metro Mondego na Baixa da cidade com a criação de uma Via Central, permitindo também o trânsito automóvel.

Segundo a autarquia, a criação desta ligação, para além de aumentar a mobilidade no centro da cidade, vai ”eliminar uma área de degradação urbana, contribuindo para a melhoria de um espaço vasto”, que está inserido na zona de protecção classificada pela UNESCO como Património da Humanidade.

Uma zona “esventrada”, um “estaleiro” ou uma área “degradada” em estado “caótico”: em Coimbra, os vários quadrantes políticos convergem na urgência em se intervir nos terrenos que resultaram das demolições.

Se a necessidade de recuperar aquela zona merece a concordância de todos os vereadores, o mesmo não acontece com a forma de o fazer. O ponto foi aprovado na reunião do executivo camarário com a abstenção do vereador da CDU e com o voto contra do vereador do movimento Cidadãos por Coimbra. Apesar de votar favoravelmente, o PSD levantou igualmente reservas em relação ao projecto para a Via Central.

As demolições para instalar o canal destinado à passagem do Metro Mondego naquela zona tiveram início em 2005. Na via entre a avenida Fernão de Magalhães e a Rua da Sofia deveria, segundo o projecto do sistema de metro ligeiro, passar uma linha de metro que ligaria a beira-rio aos Hospitais da Universidade de Coimbra.

Na reunião de câmara desta segunda-feira, o presidente da autarquia, Manuel Machado, referiu-se ao projecto como sendo de natureza “rodo-ferroviária”, essencial para “consolidar vários compromissos assumidos”.

No entanto, o vereador do movimento Cidadãos por Coimbra, José Augusto Ferreira da Silva, apontou para a declaração de impacte ambiental, que “colocou claramente a questão de que o canal se destinava apenas a ferrovia”. O vereador receia que o canal acabe por servir o transporte rodoviário.

Posição semelhante foi adoptada pelo vereador do PSD, João Paulo Barbosa de Melo, que lembrou a “intenção já antiga de abrir uma avenida” entre a Rua da Sofia e o rio Mondego e disse ter “pouca simpatia pela ideia de deitar abaixo uns quarteirões no centro histórico da cidade para deixar passar carros”. Apesar disso, o também ex-presidente da autarquia anunciou o voto positivo com a expectativa de que o caminho sirva a ferrovia.

Já em 2005, a opção de abrir um corredor naquela parte da cidade não foi consensual, com várias associações e personalidades a assumirem a oposição às demolições.

A questão do calendário foi também levantada. O vereador Ferreira da Silva alegou que se está “a poucos meses de saber o que se vai fazer do Metro” para se opor ao avanço de um projecto que depois pode vir a ser novamente alterado.

O socialista Manuel Machado lembrou que o projecto aprovado nesta segunda-feira tem em consideração a eventualidade da instalação de carris. A nota enviada pela autarquia aos jornalistas refere que esta intervenção ”contempla a futura instalação deste [do metro], criando condições facilitadoras à sua construção e diminuindo-lhe os respectivos custos”.

O projecto prevê ainda o alargamento para cinco metros da via para permitir a circulação no sentido avenida Fernão de Magalhães – rua da Sofia, sendo a obra acompanhada pela Sociedade Metro Mondego.

A conclusão desta ligação entre a Loja do Cidadão e a Caixa Geral de Depósitos é sinónimo de novas demolições na Baixa, uma vez que restam ainda alguns imóveis no caminho. Edifícios onde se encontram instalados alguns estabelecimentos comerciais serão demolidos e um outro prédio municipal deve manter-se, por enquanto, uma vez que a sua destruição só seria necessária para a instalação de uma paragem do Sistema de Mobilidade do Mondego.

Na intervenção que teve início há mais de uma década foram demolidos vários edifícios, dando lugar a um terreno desocupado, naquela que é hoje uma zona degradada na Baixa de Coimbra. Durante as operações, foram encontrados vários vestígios arqueológicos que, garante a autarquia, serão salvaguardados de forma a permitir a sua “leitura de ocupação ao longo do tempo”, tendo para isso sido alvo de escavações.

Para que as obras do Metro Mondego arrancassem em 2009, a linha ferroviária da Lousã, em actividade desde 1905, foi interrompida e levantados os carris de grande parte do percurso. O transporte de passageiros passou a ser assegurado por via rodoviária até que fosse encontrada uma solução para o projecto. Actualmente a ligação continua a ser feita por autocarro.

O Orçamento do Estado para 2016 prevê uma verba de 2,1 milhões de euros para o Sistema de Mobilidade do Mondego, mas a opção para o projecto a ser seguida pelo governo ainda não é clara.

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