Cidadãos querem que Aveiro seja exemplo nacional de mobilidade ciclável

Grupo informal apresentou à autarquia, no âmbito da revisão do PDM, um total de 52 propostas. Uma das sugestões passa por impor um limite de velocidade no centro da cidade de 30 km/hora.

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Aveiro já é conhecida por ser uma das cidades nacionais que melhores condições oferece para o uso da bicicleta - além de ser plana, tem grande parte dos seus serviços e equipamentos concentrados num pequeno perímetro -, e orgulha-se de ter sido pioneira na criação de um projecto de bicicletas partilhadas. Mas para quem faz do veículo de duas rodas o seu meio de transporte preferencial ainda é “difícil” circular de bicicleta em Aveiro e urge tomar medidas para resolver a situação. E ideias não faltam. O grupo informal de cidadãos Ciclaveiro acaba de apresentar um total de 52 propostas à câmara municipal, no âmbito do período de consulta pública do revisão do PDM (Plano Director Municipal). “Todas elas são medidas exequíveis, que nem representam grandes investimentos, especialmente se tivermos em consideração os ganhos que o município conseguirá ter no futuro”, atesta Rui Igreja, um dos elementos do grupo.

O documento, que foi remetido para a autarquia na passada quinta-feira, tem uma meta bem definida: que Aveiro se torne, nos próximos 10 anos, num modelo a nível nacional em termos de mobilidade ciclável e sustentável. O objectivo do Ciclaveiro passa por, em 2020, a cidade ter uma taxa modal de utilização de bicicleta de 10 por cento e, em 2025, de 25 por cento, na certeza de que “o aumento da bicicleta como meio de transporte deve acontecer à custa da redução da utilização do automóvel”. “Apesar de o concelho ter uma taxa de utilização modal da bicicleta como forma de transporte de 2,8 por cento, superior à média nacional, essa taxa é apenas cerca de um terço da média europeia, e nem sequer um quinto da meta estabelecida pela European Cyclists’ Federation para 2020”, evidencia o grupo.

Uma das alterações que o Ciclaveiro gostaria de ver implementada no PDM passa pela imposição de um limite de velocidade 30 km/h em meio urbano. “Zonas habitacionais e comerciais devem ser transformadas em zonas de velocidade reduzida, conhecidas por 'Zona 30'”, sugerem, num documento onde é também proposta a criação de uma “zona de segurança em torno dos equipamentos escolares” - o grupo recorda que “a grande maioria dos atropelamentos de crianças dão-se nas proximidades das escolas”.

Da lista de propostas consta ainda a ideia de que o “PDM deverá estabelecer uma rede de percursos cicláveis, com base nos fluxos existentes e desejáveis, de mobilidade de moradores/trabalhadores/estudantes, que seja contínua e de malha fechada, segura e confortável, articulada com os transportes públicos (promovendo a intermobilidade)”. É também apontada a necessidade de serem criadas “bike boxes” -  paragens avançadas para bicicletas nos semáforos, as quais permitem aos velocípedes posicionar-se em frente aos outros veículos -, bem como de zonas de estacionamento para bicicletas. “O espaço destinado ao estacionamento de um automóvel é suficiente para o estacionamento de 10 bicicletas, pelo que estacionamento para bicicletas significa redução de 90 por cento do espaço público ocupado por estacionamento”, recordam os elementos do Ciclaveiro, ao mesmo tempo que notam que ao serem criadas “condições para o estacionamento de bicicletas, está-se também a transmitir a mensagem de que a utilização deste meio de transporte é bem-vinda”.

Funcionários públicos e polícias devem dar o exemplo
O conjunto de propostas endereçado à autarquia, e que foi assinado por 218 subscritores – 213 cidadãos e cinco entidades – também defende que devem ser criadas “medidas de incentivo dirigidas às forças policiais, Polícia Municipal, PSP e GNR, […] para que estas utilizem a bicicleta em patrulhamento de proximidade”. No mesmo sentido, defende o Ciclaveiro, deve ser incentivada a utilização da bicicleta na administração pública. Ou seja, a ideia passa por levar a que a bicicleta seja o meio de transporte preferencial “nas deslocações pendulares dos funcionários da autarquia, assim como nos seus serviços em deslocações curtas, servindo como bom exemplo e incentivo à comunidade”. “A utilização regular da bicicleta como forma de transporte tanto em serviço, como em deslocações de e para o trabalho pode ser promovida tanto pela atribuição de vários benefícios, tais como dias de férias ou subsídios de transporte”, acrescenta o Ciclaveiro a este propósito.

Todas estas sugestões, e muitas mais – são 52 ideias no total – surgiram na sequência do contributo de “44 pessoas”, evidencia Rui Igreja, sem deixar de lembrar que o documento começou a ser preparado em Dezembro. “Quando soubemos da revisão do PDM, entendemos que era a oportunidade para juntar todas as nossas ideias e chamar a comunidade a participar”, frisou, por seu turno, Joana Ivonia, outra das responsáveis do grupo, lembrando a acção pública promovida pelo Ciclaveiro para ouvir a população.

Ainda levará algum tempo para se saber quais destas medidas serão vertidas no PDM de Aveiro, mas, por ora, os mentores do grupo estão optimistas. “Se queremos uma cidade com maior qualidade de vida, então, devemos avançar com estas propostas”, argumentou Rui Igreja.

Grupo jovem mas interventivo
Não obstante a sua curta existência – cerca de um ano - o grupo de cidadãos Ciclaveiro já desenvolveu várias acções públicas em defesa da utilização da bicicleta e da mobilidade sustentável. Uma das iniciativas com maior visibilidade passou pelo concurso de montras “Aveiro e a Bicicleta”, que desafiou os comerciantes a usarem a bicicleta para decorar as suas montras.

O “Mini Rodas”, um pequeno passeio de bicicleta para crianças, com o objectivo de sensibilizar as famílias e a comunidade para a importância da introdução da bicicleta como forma de transporte desde a primeira infância, foi outra das acções de destaque deste grupo de cidadãos – sem esquecer outras iniciativas e campanhas.

Quem são eles? Dezenas de cidadãos que acreditam que “a utilização da bicicleta como meio de transporte pode melhorar a qualidade de vida das pessoas”. “Muitos de nós, quase todos, somos utilizadores regulares de bicicleta, mas isso não é condição essencial para se pertencer ao grupo”, nota Joana Ivonia. 

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