Hospitais algarvios investem cinco milhões em novos equipamentos

O plano de requalificação dos hospitais de Faro e Portimão prevê 20 milhões de euros de investimento nos próximos três anos. Os directores dos departamentos continuam demitidos há meses.

Foto
Face às debilidades do sistema de saúde público no Algarve, tem crescido o número de clínicas privadas Filipe Farinha/stills

A administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) anunciou um investimento de cinco milhões para substituir e reparar equipamentos obsoletos há anos. O presidente do CHA, Joaquim Ramalho, em declarações ao PÚBLICO, adiantou que “estão previstos mais seis milhões de investimento, com o mesmo fim, até final do ano”.

Com a chegada do Verão, as estruturas públicas de saúde procuram transmitir a ideia de que a região está preparada para responder ao aumento dos fluxos turísticos. “Estamos a substituir equipamentos que estavam pura e simplesmente inoperacionais”, afirma Joaquim Ramalho, dando como exemplo os aparelhos de ressonância magnética e de hemodinâmica. O valor gasto em exames de ressonância magnética, requisitados a clínicas privadas, atingiu os 800 mil euros num ano por falta de resposta interna. Às criticas sobre o funcionamento do CHA, vindas de vários sectores, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, respondeu com o anúncio da criação do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), prevendo uma mudança orgânica e administrativa que ocorreria em Maio ou Junho. O diploma ainda não foi aprovado em Conselho de Ministros.

Os cinco milhões de investimento que estão em curso, reconhece Joaquim Ramalho, respondem apenas a “algumas carências críticas” que se têm vindo a arrastar: “Já sinalizamos à tutela mais seis milhões de investimento, a realizar até final do ano”, adiantou. Neste pacote, inclui-se um novo aparelho de Tomografia Axial Computorizada (TAC), para o hospital de Faro e substituir um TAC, no hospital do Barlavento, em Portimão.

Mas os conflitos internos, entre médicos e administração, não se esbateram. O ponto mais crítico deu-se em Fevereiro, quando foi aprovado um novo regulamento interno. Nessa altura, a adjunta do director clínico, Ana Lopes, e três directores de departamento desta unidade de saúde formalizaram o pedido de demissão que tinham anunciado no princípio do ano. “Falta de uma orientação estratégica visível e motivadora” foi a justificação dada por Ana Lopes para recusar manter-se em funções de direcção.

Os directores dos departamentos de Emergência, Urgência, Cuidados Intensivos, Cirurgia e Medicina, formalizaram o pedido de demissão, no dia 13 de Fevereiro, após terem feito várias denúncias públicas, queixando-se da falta de investimento na compra de equipamentos, bem como dos maus resultados alcançados, quer assistenciais, quer do ponto de vista do tempo de espera.  

Joaquim Ramalho admite que os investimentos de fundo, que não são feitos há cinco anos, criam “constrangimentos para os médicos desenvolveram a sua actividade”. Para alterar o estado das coisas, enfatiza que nos próximos três anos está previsto um investimento de 20 milhões de euros destinado a criar condições para atrair mais profissionais que possam aliar o exercício da medicina com a investigação científica. A construção de um novo hospital central, que chegou a ter direito ao lançamento da “primeira pedra” da obra, não figura nos planos do Governo para os próximos tempos. “Provavelmente, só na próxima legislatura”, admitiu o secretário de Estado da saúde, Manuel Delgado, no Algarve, quando no final do ano passado foi interpelado sobre o assunto. Em contrapartida, cresce o número de clínicas privadas, aproveitando o mercado de quem tem poder económico e não encontra resposta no serviço público. 

No final do mês de Maio, as Urgências do CHA registaram menos 2,7% de utentes (130.988) do que em igual período do ano anterior. O representante regional da Ordem dos Médicos, Ulisses Brito, questionado pelo PÚBLICO, advertiu: “O Verão chegou, e a perturbação está instalada, urge uma solução rápida para o CHA”. No mesmo sentido, o deputado Cristovão Norte, PSD, membro da Comissão Parlamentar de Saúde, questiona: “Como é possível a estrutura hospitalar funcionar sem uma estrutura intermédia [directores de departamento, demissionários]? Os resultados, diz, “reflectem a desagregação dos serviços que se verifica há quatro meses”. Em relação aos investimentos anunciados, lembra que dos 20 milhões anunciados para três anos, em 2016 foi apenas investido 1,5 milhões. “Espero que cumpram com o prometido”, desafia.

Sugerir correcção
Comentar