Campolide troca lixo por café ou medicamentos

A freguesia de Lisboa quer colocar os moradores a trocar lixo por consumo em espaços de comércio tradicional local, esperando resolver dois problemas de uma só vez.

Foto
Primeira recolha acontece já este sábado Daniel Rocha/Arquivo

Quanto é que vale o seu lixo? Em Campolide, em Lisboa, um saco de lixo pode valer um café, um medicamento, um desconto no cabeleireiro, no almoço ou no peixe para o jantar. A troca acontece através do programa Pago em Lixo, que convida todos os moradores da freguesia a trocarem o seu lixo, em pontos de recolha específicos, por moedas e notas que podem ser utilizadas em mais de 70 estabelecimentos do bairro que aderem à iniciativa.

O conceito é simples. Os moradores entregam o seu lixo em local próprio definido pela freguesia e, em troca, recebem uma “moeda” local, com que podem fazer compras do dia-a-dia. O valor varia consoante o peso e tipo de resíduo entregue por cada morador, que a autarquia limitou a 10 kgs por dia por cada residente.

O lixo é pesado por funcionários designados pela junta e a cada quilo de lixo indiferenciado corresponderá a atribuição de uma nota de lixo. Cada moeda ou nota “lixo” corresponde a um valor comercial de um euro, um valor “simbólico”. O lixo reciclável vale mais. Por cada quilo de embalagens, papel ou vidro, são distribuídas duas notas, ou seja, dois euros.

Entre cabeleireiros, frutarias, restaurantes, farmácias, cafés, sapatarias, drogarias ou peixarias, as lojas e serviços aderentes são identificados através de um dístico emitido pela autarquia. Os espaços serão depois reembolsados em dinheiro real pela junta de freguesia.

A autarquia de Campolide investiu, numa fase inicial cerca de 15 mil euros no projecto, mas André Couto, presidente da Junta, garante que, "através de uma análise constante da relação custo-benefício", poderá ser investido mais no futuro.

"O objectivo é consciencializar a população sobre a importância da higiene urbana, assim como a correcta reciclagem e separação do lixo, contribuindo simultaneamente para a dinamização da economia e comércio local, de modo a que todos sejamos vencedores", afirma André Couto, em comunicado. O propósito do projecto baseia-se, por isso, no desenvolvimento de comportamentos cívicos de forma a diminuir a quantidade de lixo nas ruas lisboetas, bem como, ao mesmo tempo, apostar no combate à crise no comércio tradicional.

A trabalhar há seis anos na higiene urbana de Campolide, Vítor Gonçalves nota que as pessoas deitam muito lixo para o chão e "abandonam os sacos ao lado dos carros" ou "na porta das escadas dos prédios", o que dificulta o trabalho de recolha de resíduos urbanos, cita a agência Lusa. “Deixam entulhos, madeiras, sofás. Deixam tudo, é impressionante”, lamenta. Com esta “recompensa” por bom comportamento, os moradores poderão começar a corrigir os seus hábitos e Campolide transformar-se-á num espaço mais limpo, acredita a autarquia.

Ao dispor dos moradores está um site com informações específicas sobre os pontos de recolha, a lista e localização dos estabelecimentos aderentes e as acções de formação nas escolas e espaços sénior.

O projecto ainda não tem um período de duração definido, que deverá depender da recepção dos moradores e sucesso da campanha Pago em Lixo. Para já, no calendário estão garantidas as primeiras recolhas para os dias a 17 e 24 de Setembro. No sábado, a troca de lixo acontece no Alto de Campolide, das 10h às 11h30, e no Bairro da Serafina, das 12h às 13h. No dia 24 a recolha acontece, no mesmo horário, no Bairro da Bela Flor e no Bairro da Liberdade, respectivamente.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários