Porto: Praça da República será renovada sem apagar a sua história

Ajuste directo para a elaboração do projecto foi feito ao arquitecto José Carlos Portugal. Intervenção prevê requalificação da envolvente, incluindo o Largo da Lapa.

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O jardim Teófilo Braga, no centro da praça, também vai ser intervencionado RICARDO CASTELO /NFACTOS

A Câmara do Porto quer intervencionar a Praça da República, o seu jardim e a envolvente, incluindo o Largo da Lapa. A empresa municipal GOP — Gestão de Obras Públicas contratou o arquitecto José Carlos Portugal para desenvolver este projecto de requalificação e a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, na vertente de Arquitectura Paisagista, para “ajudar” a olhar para uma intervenção no jardim histórico.

O vereador do Ambiente, Filipe Araújo, explica que a intervenção prevista para a área nasce de uma outra, mais abrangente, que a autarquia tem vindo a desenvolver em jardins históricos da cidade — como o de Montevideu, do Passeio Alegre ou do Palácio de Cristal —, mas com um carácter especial. “Pela sua singularidade e importância histórica, entendemos que o jardim da Praça da República [Jardim Teófilo Braga] merece uma atenção especial e, por isso, demorámos algum tempo a perspectivar a maneira como íamos montar o processo, que está agora em marcha”, diz.

A conclusão a que os serviços chegaram é que seria uma oportunidade para intervir na zona em três perspectivas diferentes: “ambiente, pelo lado do jardim, urbanismo e via pública, no que é a envolvente da praça”, sustenta o vereador. A proposta sobre como tudo isso será feito deverá ser desenhada pelo arquitecto José Carlos Portugal, com quem a GOP estabeleceu um contrato, no valor de quase 75 mil euros, para que ele desenvolva, no prazo de 112 dias, todo o processo necessário à elaboração do projecto de execução para aquela zona.

O apoio, no que concerne ao jardim, será dado por elementos do departamento de Arquitectura Paisagista da FCUP. “A faculdade trará para o processo toda a componente histórica, porque aquela zona tem que ser tratada com algum cuidado. Estamos a falar de recuperar um ex-libris da cidade, e nesse caso temos duas opções: perspectivar uma coisa completamente nova ou atender à história que o espaço tem e salvaguardá-la o mais possível. Queremos salvaguardar, pelo que vamos tentar que o arranjo urbanístico e paisagístico”, explica Filipe Araújo.

O autarca especifica que o projecto que está a ser desenvolvido deverá “tornar a área mais coesa”, defendendo que é “extremamente importante o desenvolvimento da cidade nesta zona”. A área da Lapa, encostada à Praça da República, é um dos espaços que deverá ser abrangido pelo projecto, nomeadamente, a ligação à estação de metro que Filipe Araújo diz “não estar assumida”.

O Largo da Lapa já foi alvo de um concurso de ideias lançado pela Câmara do Porto, em 2012, por sugestão do PS. No decorrer do processo chegaram a ser seleccionadas cinco propostas, das que foram apresentadas a concurso, mas depois não houve mais desenvolvimentos. Em Abril de 2013, o socialista Manuel Correia Fernandes — que estava, na altura, na oposição, mas viria a assumir, com a vitória de Rui Moreira, o pelouro do Urbanismo, que abandonou há poucas semanas — chegou, por isso, a afirmar que “o concurso de ideias do Largo da Lapa não serviu rigorosamente para nada”.

Na altura, a proposta que estava mais bem classificada era a do gabinete Castro Calapez Arquitectos, Ld.ª, prevendo o alargamento do adro da igreja, que ganharia uma forma e cor semelhantes a um coração, evocando a figura de D. Pedro IV, cujo coração está guardado na Igreja da Lapa, naquela praça. Fonte da Câmara do Porto da época, gerida por Rui Rio, confirmou que não iria haver qualquer intervenção naquele mandato, mas recusou que o concurso tivesse sido uma perda de tempo, uma vez que havia ideias que eram deixadas para o futuro.

Agora, todo o processo vai ser reinterpretado por José Carlos Portugal, mas também não há qualquer perspectiva sobre quando poderá haver obra no local. Certo, apenas, é que não haverá qualquer intervenção a arrancar ainda este ano.      

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