Câmara de Portimão troca publicidade nas rotundas por manutenção dos espaços verdes

O interesse por colocar anúncios em rotundas ultrapassou as expectartivas. O concurso ainda está decorrer para 27 jardins, mas a câmara admite vir a contemplar outras propostas, fora das vias principai

A falta de dinheiro levou a câmara de Portimão a passar a privados a manutenção das rotundas da cidade a privados, quase a custo zero para os munícipes. Em troca, as empresas  têm direito a  colocar painéis  publicitários nesse espaço público, sem que lhes sejam cobradas quaisquer taxas. O concurso público está aberto até fim do mês. Como a procura é a maior do que a oferta, o município admite a hipótese de vir a alargar a concessão a outros espaços verdes da cidade, que não estavam previstos nesta fase.  

                Portimão é um dos municípios que pediu assistência financeira ao Governo – através do Fundo de Apoio Municipal (FAM) - para evita a falência. As dificuldades de tesouraria persistem. Passando o período do “glamourt” e das festas dos anos em que a actividade imobiliária estava em alta,  a autarquia  caiu na situação de não ter dinheiro sequer para manter a rega dos jardins.  A relva secou no Verão, mas com a chuva deste Inverno deu-se o regeneração das espécies- muito embora as ervas daninhas rivalizem em altura com as roseiras.  A imagem do abandono, aparentemente,  esbateu-se, mas a incúria permanece. A presidente da Câmara, Isilda Gomes, PS, em declarações à Lusa, alegou dificuldades  financeiras para justificar o estado das coisas. Por isso, lançou um concurso à espera de “padrinhos para as rotundas”, para reabilitar os espaços verdes.  “Falido estou eu”, comenta Hélder Fantasia , a ver o cair da  água dos repuxos, no largo em frente do edifício dos Paços do Concelho.  O empregado de mesa do Hotel Penina,- “o “Bolinhas”, como se apresenta - ,  vive o drama da sazonalidade turística. “Estou desempregado desde Novembro”. Por isso, enquanto não chega o pedido de regresso ao trabalho, mata o tédio a observar a geografia humana. “ Só há vida no Verão, com os turistas”, conclui.  Na esplanada “Riviera”, ao lado do banco  público em que está em sentado,  o cartaz anuncia “fisch& chips”,  à espera de clientes que tardam em chegar.

A degradação dos espaços verdes é a imagem mais evidente do estado das finanças autárquicas. Nos últimos cinco anos, o quadro de jardineiros da câmara foi reduzido para cerca de metade- dos 23 trabalhadores deste sector, restam apenas 11. “O munício está em situação económica difícil e, por isso, temos de ter engenho e arte para responder aos desafios permanentes”, diz, Isilda Gomes, justificando a abertura do concurso para a manutenção e reabilitação das cerca de meia centena de rotundas. A câmara só oferece a água e apoio técnico, tudo o resto fica por conta de quem vier a “adoptar” uma rotunda. O júri, de cordo com o caderno de encargos, irá ter em conta o projecto de arquitectura paisagística, para tornar o espaço atractivo.  Até 2012, a manutenção dos espaços verdes era assegurada por cinco empresas privadas, o que representava um custo de um milhão de euros por ano. O vice-presidente da câmara,  Castelão Rodrigues, em declarações ao PÚBLICO, adiantou que o  interesse das entidades privadas pelas zonas verdes ultrapassou as expectivas: “Temos uma empresa que pretende  três rotundas,  que não estavam  no conjunto das 27 que foram colocadas a concurso”, adiantou.  Por isso, admitiu, um novo concurso para contemplar outras rotundas, “menos atractivas, do ponto de vista publicitário, por não se situarem nas vias principais”.  

                O jardim, situado em frente à estação da CP, é um do conjunto  dos espaços verdes votados ao abandono, não previsto no concurso que está a decorrer.  A Escola de Gestão de Hotelaria e Turismo da Universidade do Algarve situa-se ao lado deste jardim, onde existe um pequeno lago de água esverdeada.  Os utentes criticam o espaços degradado e pouco cuidado.  Na ausência de sanitários públicos, é o lado de lá do muro da estação do caminho de ferro que se socorre os utentes  do jardim, sobretudo durante a noite. Olga Costa, de 81 anos, a meio da tarde, de sexta-feira, encontrava-se sentada num banco,  com o cão ao lado, a fazer-lhe companhia. “Isto é uma desgraça, deixaram morrer tudo”, diz, recordando “como era lindo, o jardim”, no tempo em que ali estava um homem a cuidar dele, em permanência: “Andava com isto num brinquinho”, sublinha. A vizinha, Olga Costa, levanta outro problema: “Nem sinalética existe”. Numa das portas de entrada na cidade, prossegue, os estrangeiros ficam perdidos: “  perguntam pela Casa Inglesa ( café clássico, no centro da cidade], mas não há qualquer indicação”. Por último, numa referências aos técnicos municipais, acrescenta, “a escolha dos locais para as placas sinaléticas, quando existem, só servem para quem já conhece os sítios”.  Ainda sobre o interesse das empresas privadas em tratar dos jardins públicos, observa: “Só queríamos ter o mesmo direito dos outros, dos que vivem nas zonas ricas”.

               

                 

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