Câmara de Lisboa manda rever projecto para um prédio oitocentista de Alcântara

Projecto actual prevê demolição de tudo à excepção da fachada e a construção de apartamentos para turistas. O assunto foi levado à assembleia municipal, onde Helena Roseta pediu que a aprovação fosse adiada.

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Enric Vives-Rubio
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A Câmara Municipal de Lisboa vai pedir que seja revisto o projecto de arquitectura para um edifício do século XIX na Rua dos Lusíadas, em Alcântara. O actual projecto prevê a demolição integral do prédio, à excepção da fachada, e a construção de 40 apartamentos para fins turísticos. O assunto deveria ser discutido na reunião camarária desta quinta-feira, mas o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, disse ao PÚBLICO que a proposta vai ser retirada e só irá a debate quando existir nova versão do projecto.

Na terça-feira, uma munícipe interveio na sessão da assembleia municipal para pedir à autarquia que chumbasse a demolição do edifício, construído em 1888. “O palacete vai ficar completamente desfigurado”, lamentou Helena Espvall, uma música sueca a viver em Lisboa há quatro anos. “Acho errado sacrificar o património histórico para fazer alojamento turístico, não faz sentido nenhum. Eu vivo em Lisboa porque adoro a arquitectura portuguesa e imploro que façam mais para a salvaguardar. E que votem não a este projecto”.

Depois desta intervenção, Helena Roseta pediu a Manuel Salgado que adiasse a discussão da proposta em câmara, que estava marcada para esta quinta-feira depois de já ter sido adiada uma vez. O vereador nada disse na ocasião, mas esta quarta-feira garantiu ao PÚBLICO que a decisão de mandar o projecto para trás já estava tomada antes de Roseta falar nisso.

Há duas semanas, o Fórum Cidadania Lx enviou uma carta ao vereador a protestar contra a anunciada demolição do prédio, degradado e abandonado há anos. “Trata-se de um edifício histórico da freguesia de Alcântara”, escrevem os subscritores, defendendo que “urge recuperar e não demolir”. A missiva termina com palavras duras para Salgado: “Continuamos sem compreender a indisfarçável indiferença, senão repúdio, de V. Exa. pelo património edificado de transição, séculos XIX-XX, em que Lisboa era riquíssima e que, desde há uma dezena de anos a esta parte, tem vindo a desaparecer de forma assustadora.”

Helena Espvall, a munícipe que falou na assembleia, também não compreende a “negligência e desrespeito” que diz existir por este tipo de património. “A arquitectura deste país é extraordinária, é única, não a vi em mais lugar nenhum”, disse ao PÚBLICO. A morar na Rua dos Lusíadas há pouco mais de um ano, a sueca afirma, a rir-se, que a vista para o edifício e o Tejo é praticamente “a única coisa boa” do apartamento em que está. “Sento-me na sala, vejo-o diariamente. Não o quero ver demolido ou desfigurado.”

O edifício pertence à imobiliária Imolapa, que o PÚBLICO tentou contactar sem sucesso durante a tarde de quarta-feira. Fica mesmo ao lado da sede da Junta de Freguesia de Alcântara, quase debaixo da Ponte 25 de Abril. O presidente da junta, Davide Amado, disse ao PÚBLICO na terça-feira que enviou um e-mail para a câmara há quinze dias e ainda está à espera de informação sobre o assunto.

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