Avós de Reguengos de Monsaraz recriam em bonecos de tecido a “boda da aldeia”

Querem mostrar às crianças e jovens de hoje como era no seu tempo de meninas a celebração de cinco momentos que antecediam e procediam o casamento incluindo a sua consumação.

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Uma dúzia de mulheres com idades entre os 55 e os 84, condenadas ao isolamento que toma conta das aldeias do interior rural, desistiram de chorar a solidão que lhes tolhia a criatividade e decidiram-se a tomar conta de uma antiga escola abandonada para fundar a “Casa das Avós”, em 2011, na aldeia de Motrinos, em Reguengos de Monsaraz. De então para cá, das suas mãos têm surgido autênticas obras de arte em tecido. Já produziram mais de uma centena de artigos de uso regional, entre outros, rendas, bordados, taleigas, alforges, bonecas de pano e naperons. No final de Janeiro, inauguraram uma exposição permanente sobre a “boda da aldeia” como ela se realizava na sua aldeia nos tempos das suas infâncias.

Ana Rosa, coordenadora da “Casa das Avós”, explicou ao PÚBLICO que na exposição estão representados cinco momentos em torno do matrimónio: a cerimónia religiosa, com os noivos à espera de receber a bênção, o copo de água com destaque para o bolo de noiva, a ceia e os respectivos tachos tradicionais, o momento das fotografias e o quarto de núpcias mais o vestuário adequado ao momento em que o casamento seria consumado.

Os bonecos feitos em tecido vão ao pormenor de personificar os estratos sociais que estruturavam a comunidade de Motrinos na primeira metade do século XX. “Aos mais ricos não falta o fraque. Seguem-se os do meio e no fim da escala social estão os pobres vestidos de tecidos de algodão”, descreve Ana Rosa.

Os bonecos “estão orientados para os mais novos”, destaca a responsável, frisando que em cada uma das idosas que os fez “ainda subsiste uma criança” que se expressa nos modelos que trabalharam para a boda. A busca da perfeição vai ao pormenor de “não se repetirem modelos nem tecidos, penteados, calçado e até roupas interiores”, assinala a coordenadora da “Casa das Avós”.

Ana Rosa duvida que uma jovem nos dias de hoje tivesse paciência, tempo e motivação para realizar os “magníficos” trabalhos que as idosas de Motrinos conceberam. “As raparigas actuais passam a vida a estudar e depois entram no mercado de trabalho”, o que não acontecia há 50 anos. “Bordar o enxoval, hoje, deixou de fazer sentido e os jovens nem sequer apreciam os bordados”, observa.

Nos casamentos de aldeia há histórias curiosas, como por exemplo a dos bordados feitos pelas noivas que eram mantidos em absoluto secretismo, pormenor que despertava grande expectativa nos convidados, amigos e vizinhos ao visitar a casa dos noivos no dia do casamento. “E nós fizemos o mesmo para a nossa exposição. Guardámos segredo” até ao dia em que foi inaugurada, confidencia Ana Rosa.

O ambiente humano que rodeia a boda foi igualmente replicado, acentua Ana Rosa, descrevendo-o como um momento de alegria e amizade, de festa impregnado de amor. “São sentimentos que queremos transmitir aos mais jovens. Para os mais velhos sobra a ternura”, sublinha, para explicar que foram oferecidos aos convidados na inauguração da “boda da aldeia” bolos, outros doces e salgadinhos como antigamente. Os vinhos foram oferecidos pela cooperativa de Reguengos de Monsaraz e o pão pelo padeiro da terra.

Como impunha a tradição neste tipo de festividades, as artesãs da “Casa das Avós” convidaram o grupo coral da freguesia de Monsaraz que cantou “Olha a noiva que vai linda”. Estava um bonito dia de sol e, “graças a Deus, tudo correu bem”, sintetiza Ana Rosa, referindo que foi a “Casa das Avós” a assumir o financiamento da exposição. Agradece o apoio e a colaboração da Junta de Freguesia de Monsaraz e da Câmara de Reguengos de Monsaraz, agradecimentos que se estendem ao “avozinho que fez as carpintarias e a outro que facultou paletes em madeira para montar a exposição”. 

Concluída mais uma tarefa, as agulhas, tesouras, dedais e o mais variado tipo de trapos que vão recolhendo — até de Lisboa chegam sacos cheios de restos de tecidos —, as senhoras de Motrinos, já preparam a próxima jornada de trabalho: a homenagem às mulheres da terra. “Vamos procurar reunir o enxoval das noivas da nossa aldeia do século passado, preciosidades que as pessoas ainda guardam e que nós queremos valorizar” para mostrar como era a juventude das actuais avós da aldeia alentejana de Reguengos de Monsaraz.

A exposição pode ser visitada às terças e quintas-feiras das 10h às 17h30 e aos domingos das 14h30 às 18h.

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