Aveiro quer perpetuar na memória muralha da qual já só restam vestígios

Câmara Municipal garante ter na calha algumas acções para reforçar a presença da antiga estrutura na cidade. A primeira acontece já este sábado

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Para quem desconhece a história de Aveiro, será difícil imaginar que a cidade já esteve envolta numa muralha uma vez que pouco ou nada resta daquela estrutura quinhentista – tirando um ou outro vestígio que foram sendo encontrados na sequência de algumas demolições de imóveis. A estrutura foi demolida por volta de 1801, altura em que foi necessário arranjar uma quantidade significativa de pedra para levar a cabo a obra da abertura da Barra de Aveiro - por volta dos inícios do século XIX, houve um problema grave de fechamento da barra, com consequências catrastróficas para a região, razão pela qual foi necessário desenvolver uma empreitada para fixar e abrir a entrada no porto aveirense (uma obra que se estendeu ao longo de seis anos). Mas a câmara está determinada em preservar a memória da presença da estrutura já desaparecida, prometendo avançar com várias acções. A primeira acontece já este sábado e levará os cidadãos a percorrer o traçado da antiga estrutura. A “Caminhada sobre a Muralha Quinhentista” está marcada para as 18.15 horas e surge integrada no programa do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 2016.

“A muralha como factor histórico é um elemento que queremos promover e preservar”, asseverou Ribau Esteves, presidente da câmara de Aveiro ao PÚBLICO. “A caminhada que decidimos promover em conjunto com os Aveiro Night Runners [grupo informal que promove, todas as semanas, uma corrida e caminhada pública] será apenas a primeira de várias acções que queremos promover”, acrescentou o autarca, reservando, para mais tarde, o anúncio sobre essas iniciativas futuras. “São acções que surgem no âmbito do PEDUCA [Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano da Cidade de Aveiro] cuja candidatura ao Portugal 2020 já foi aprovada, faltando, agora, assinar os contratos de financiamento”, enquadrou o autarca aveirense, ao mesmo tempo que dizia esperar ter o processo concluído até ao final do próximo mês.  

Ainda que não se conheçam em concreto quais as medidas que poderão estar na calha, esta intenção de preservar a memória da estrutura quinhentista já manifestada pelo líder da autarquia, assim como a acção pública agendada para hoje, merecem, desde logo, uma reacção positiva por parte dos responsáveis da Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro (ADERAV), instituição que, há vários anos, tem vindo a desenvolver acções em torno da muralha quinhentista. “Todas as acções em defesa deste património são de louvar e aplaudir”, reagiu Paulo Morgado, investigador e vice-presidente da ADERAV, que tem estado activamente envolvido nos alertas lançados pela associação sobre a necessidade de se acautelarem os eventuais vestígios que ainda possam subsistir da muralha.

Um dos maiores vestígios da estrutura que começou a ser construída no ano de 1418 pode ser encontrado, precisamente, no talude do cemitério do centro da cidade. Mas existirão, certamente, outros ainda por descobrir ou por preservar. Paulo Morgado fala, em concreto, de “pelo menos duas situações” em que foram identificadas intervenções em edifícios do centro da cidade que puseram a descoberto ou destruíram estruturas associadas à muralha de Aveiro. “Uma situação ocorreu em 2007, junto ao edifício do Governo Civil, e outra em 2013, junto ao edifício da Loja da Susana Gateira”, recordou o geoarqueólogo, ao mesmo tempo que lembra que o papel da associação passa por alertar as entidades tutelares (Câmara Municipal de Aveiro e Instituto Português de Arqueologia) para que seja feito o devido acompanhamento arqueológico. “Depois, não temos acesso aos resultados finais dos processos”, declarou.

Acima de tudo, o dirigente da ADERAV espera que a autarquia crie condicionantes às intervenções em edifícios situados no centro da cidade – dentro do limite da antiga muralha – obrigando a que “haja um trabalho prévio de arqueologia”. Tudo para evitar que se repita “o que tem acontecido diversas vezes”: “quando surge o alerta já a estrutura que era importante preservar foi destruída”, testemunhou Paulo Morgado. Para o investigador não restam dúvidas de que urge preservar todo e qualquer vestígio de uma estrutura que faz parte da história de Aveiro, tendo marcado a paisagem da cidade – então vila - durante séculos. “Era no interior da muralha que estavam alguns monumentos emblemáticos de Aveiro, como é o caso do Convento de Jesus (actual Museu de Aveiro) e do  convento de S. Domingos, do qual subsiste somente parte da igreja, onde funciona a actual Sé de Aveiro”, vincou o dirigente da ADERAV. 

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