Autarca que levou o Porto a Património da Unesco pede mais atenção às pessoas

Fernando Gomes elogia actual executivo, mas sugere que a cidade volte a criar um gabinete voltado para as respostas sociais dirigidas a quem ainda habita no território classificado

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O Centro Histórico do Porto é património da Humanidade desde 5 de Dezembro de 1996 Paulo Ricca

O antigo presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, aplaude o trabalho que o actual executivo está a fazer na zona histórica do Porto, classificada Património Mundial pela Unesco num dos seus mandatos, há precisamente 20 anos, a 5 de Dezembro de 1996. O socialista considera no entanto que Rui Moreira deveria complementar a acção da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) com uma equipa dedicada às necessidades sociais da população que habita, e que deve ser mantida, insiste, nesta zona da cidade.

Fernando Gomes considera que, nos 12 anos dos mandatos de Rui Rio na câmara, "tirando a intervenção na Rua das Flores", se interrompeu um trabalho que vinha em velocidade de cruzeiro, com um “indispensável” investimento público capaz de atrair o privado, no domínio da reabilitação urbana. Mas as suas críticas maiores - a que o PÚBLICO tentou, sem sucesso, juntar a opinião de Rio - vão para o desmantelamento do antigo CRUARB, o Comissariado para a Renovação Urbana da Área de Ribeira/Barredo, berço da reabilitação urbana naquela área deprimida e da candidatura, vitoriosa, à Unesco, e para a extinção da Fundação Para a Zona Histórica do Porto.

Gomes considera que o papel desempenhado por esta última está fora das competências da SRU Porto Vivo e que essa intervenção social deveria merecer uma atenção específica, com uma equipa própria, por parte do município, liderado agora por um independente apoiado pelo seu partido, e cujo “bom senso” destaca. “Perdemos muito tempo. É preciso retomar a construção de equipamentos, como os jardins-de-infância, os lares de apoio a uma população envelhecida ou centros de formação”, insiste o actual administrador do Futebol Clube do Porto.

“Quando propusemos a classificação, queríamos impedir que se fizessem alguns desmandos que já vinham sendo propostos num conjunto arquitectónico e urbanístico ímpar”, recorda Fernando Gomes, acrescentando que esse esforço foi iniciado na Ribeira/Barredo e alargado às freguesias da envolvente, mas sempre com a intenção de preservar as pessoas que ali habitavam. O antigo autarca vislumbra no actual boom imobiliário no Porto alguns riscos para essas pretensões iniciais, mas também considera que o município tem nas suas mãos instrumentos para moderar o ímpeto do turismo.    

Gomes não vê problema no aumento do número de turistas, mas sim na concentração de equipamentos hoteleiros e de restauração na zona mais procurada, e pede que não se repitam operações como a do Quarteirão das Cardosas, cujo miolo foi arrasado para abrir uma nova praça. São projectos “muito interessantes para os investidores mas que não têm nada que ver com o espírito do centro histórico”, argumenta, lembrando as críticas da secção portuguesa do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - Icomos a este empreendimento.

 “A Câmara agora tem outra visão e outra mentalidade”, afirma o antigo autarca, divergindo, neste aspecto, do Icomos, que num encontro realizado na semana passada no Porto, a propósito deste vigésimo aniversário, teceu muitas críticas ao actual executivo, acusado de não estar a ter em devida conta os riscos da turistificação. O actual presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, refuta também estas críticas. Num artigo de opinião a propósito deste vigésimo aniversário, Moreira elenca algumas das medidas que vêm sendo tomadas para temperar um desenvolvimento turístico que considera essencial para a cidade mas que, admite, não a pode "desfigurar". 

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