As Marias são bonecas com alma que querem conhecer mais mundo

Marias Paperdolls é o projecto de Cláudia Nair Oliveira, designer com base no Porto, que está a apostar na internacionalização. Uma das metas é furar o mercado japonês.

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Nelson Garrido
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As Marias têm forma arredondada, personalidade e alma. Contam histórias e viajam pelo mundo. Conhecem bem o país e já estiveram em Espanha, França, Itália ou no Canadá. Passaram pelo Japão, onde se sentem em casa e pretendem afirmar-se. São a criação de Cláudia Nair Oliveira,  designer têxtil de Valongo que desde 2011 dedica-se de corpo e alma a dar vida às Marias Paperdolls que nasceram de papel reciclado na cidade que faz parte do Grande Porto e continuam a desdobrar-se em novas personagens no atelier para onde se mudou recentemente num jardim pacato da Invicta.

As Marias são Florbela Espanca, Frida Kahlo, Maria Madalena e algumas divas da música. São também figuras que defendem causas sociais ou imagens de marca que conservam o património tradicional nacional e são acima de tudo o projecto de vida da criadora que iniciou esta aventura.

No início trabalhava com mais 4 elementos que entretanto foram deixando o projecto. Cláudia continuou. Não tinha como não o fazer: “Esta é a minha grande paixão. Sou tão apaixonada por este trabalho que não há nada que esteja à frente dele”. O percurso como designer têxtil deixou-o para trás.

No atelier da Viela do Monte da Pena, no Campo Alegre, há Marias por todo o lado de colecções antigas e algumas ainda em processo de mutação do papel para a vida. Há as que ainda não têm uma cara mas já têm uma história.

A história é sempre o ponto de partida para o processo de criação das bonecas. Há uma ideia que tem que desencadear um “clique”. A partir daí a designer inicia um processo exaustivo de pesquisa. Começa por reunir imagens das personalidades que vão dar vida às bonecas. Depois faz um levantamento de pormenor do vestuário que usam. Lê livros e vê documentários e filmes que existem sobre o tópico e só depois mete as mãos no papel, cola, água e balões que dão forma às bonecas antes de serem pintadas a acrílico, seguindo os princípios da “complexidade técnica da ilustração”.

Se as personalidades estiverem ligadas à música, como no caso da última colecção As Mulheres e a Música, que homenageia personalidades consagradas do universo musical como Amy Winehouse, Janis Joplin, Nina Simone, Marlene Dietrich, Maria Callas, Édith Piaf, Cesária Evora ou Amália Rodrigues, é a música delas que vai ouvir. “Fico obcecada durante todo este processo”, diz.

Foi com a colecção “MARIAS – Por todas as Meninas e Mulheres”, criada no âmbito da campanha de denúncia de violência e discriminação sobre o género feminino “Continuamos à Espera”, exposta em 2014 no Centro Cultural de Cascais, que conseguiu encontrar a segurança para perceber que o projecto tinha pernas para andar. Contou com a colaboração de 13 designers e artistas plásticos nacionais, como André da Loba, Esgar Acelerado, Sara Macedo, Júlio Vanzeler ou Kammuz,  que se associaram à causa, pintando cada um deles uma boneca. Este passo, que considera bem sucedido, deu-lhe confiança para perceber que esta actividade seria para abraçar a tempo inteiro.

Ao nível dos Direitos Humanos criou ainda a boneca que foi a imagem do Centro Gis, inaugurado no início do ano para apoiar a comunidade LGBT. Os materiais que usa reflectem também a consciência ambiental associada ao projecto.  

“Consigo a partir destas bonecas que não são mais do que duas bolas transmitir aquilo que eu sinto, chegar às pessoas, transmitir mensagens, reivindicar direitos, falar sobre tradições e muito além fronteiras”, afirma.

As Marias não contam apenas histórias de mulheres. São também suporte ou “tela”, como gosta de lhes chamar, para contar a história da etnografia e tradições nacionais. Em 2014 desenvolveu a colecção “A Bugiada”, que remete para uma tradição popular celebrada todos os anos em Sobrado, Valongo. Na mesma linha tem também uma colecção inspirada na azulejaria portuguesa. Para este tipo de trabalhos o método é o mesmo que é usado no processo de desenvolvimento das outras bonecas.

Cada boneca é “única e exclusiva” ou são quase todas. Por vezes, por força das encomendas, tem que fazer repetições. “Não me agrada tanto”, confessa. Contudo sabe que faz parte do negócio.

Já deu à luz mais de 500 Marias, que viajaram por Portugal inteiro e estão espalhadas por várias lojas onde são vendidas. Com base no Porto já furou o mercado de países como Itália, Espanha, Canadá ou França, onde vai todos os anos para expor na Maison et Objet, em Paris, a feira que elege como sendo a que ocupa o lugar cimeiro da sua preferência. Também já esteve em Tóquio, onde expôs e vende. Agora a trabalhar numa nova colecção, inspirada nas “mulheres de negro”, viúvas de homens do mar “e não só”, quer continuar a apostar na internacionalização com destaque para o Japão: “Quero continuar a chegar a cada vez mais países, mas um dos meus grandes objectivos é insistir no Japão por acreditar ser o país mais aberto para receber o meu trabalho”.  

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