“Área de acesso reservado”: a visita começa aqui

Lisboa por Dentro convida os lisboetas a “entrarem na intimidade da cidade" pela porta de entrada das áreas de acesso restrito. Os corredores do aeroporto Humberto Delgado, não apenas um caminho para viajantes, escondem os bastidores da máquina oleada, já vão 77 anos.

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“Vamos embarcar?”. A pergunta de Vera Borrego é retórica, em jeito de brincadeira. Deste grupo de 20 pessoas que a seguem pelos corredores do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, ninguém vai embarcar. Fazem, em vez, o percurso das centenas de trabalhadores que vão todos os dias ao aeroporto e nunca chegam a entrar num avião.

“Área de acesso reservado”, lê-se junto àquele posto de check-in. Entramos pela “porta” do staff. “Um acesso que a esmagadora maioria de quem chega ao aeroporto não tem”, diz a guia desta visita. Vera está no Serviço de Terminal, faz parte da equipa que coordena e controla uma vasta e populosa área do aeroporto: os terminais de passageiros.

É ela que guia ao primeiro de quatro dias de visita aos espaços interditos do aeroporto da capital, no âmbito da programação de Lisboa por Dentro. A iniciativa da Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) propõe aos lisboetas “entrarem na intimidade da cidade".

As visitas ao aeroporto terminam este sábado, mas há mais três espaços de portas abertas (a quem se apressou a inscrever-se). Esta é a única visita feita à superfície.

A iniciativa superou as expectativas: “A adesão foi total, todas as visitas já estão esgotadas. Ou seja, mais de 500 pessoas no total”, diz Joana Gomes Cardoso, presidente da EGEAC. A organização espera que esteja lançado o mote para que “estes locais possam ser abertos mais vezes”.

Bastidores

A visita é rápida a passar pelos balcões – os de check-in, de mobilidade reduzida e o balcão de acompanhamento de menores. Todos querem ver o que fica no lado de lá.

Nos “bastidores”, é um rodopio. Afinal são 47 companhias, 110 destinos, 2 pistas. No ano passado passaram pelo aeroporto, 22,4 milhões de passageiros. Mais de 16500 descolagens e aterragens. Mais de 50 lojas e duas dezenas de cafés e restaurantes. São 77 anos de movimento.

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A morada do aeroporto é determinada pela entrada, Alameda das Comunidades Portuguesas, nos Olivais. Mas ao longo das pistas chega-se a território de Santa Clara, Camarate, Unhos e Apelação. De um lado os limites de Alvalade e Lumiar até aos limites da união das freguesias de Sacavém e Prior Velho.

Os aviões já pouco tempo estão parados e a intenção do aeroporto é fazer este “tempo de chão” baixar dos 35 minutos atuais. O abastecimento subterrâneo já é feito em grande parte dos veículos – veio substituir o abastecimento com ajuda dos bombeiros. As chamadas “mangas”, corredores que permitem aos passageiros entrar directamente da porta de embarque para o avião, ditaram o fim das viagens de autocarro dentro do aeroporto. Optimizar, optimizar, optimizar, há-de repetir Vera Borrego.

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Ao percorrer as pistas, do lado direito, nunca se perde de vista os aviões e os edifícios de apoio. Pouco se vê fora disso: parece que o aeroporto é ali uma ilha - mesmo sabendo que a Segunda Circular está ao virar da vedação.

Do terminal um, a visita segue de autocarro para o segundo terminal, criado como estrutura de apoio para o Euro 2014. Hoje, é a “casa” das companhias low cost, apenas para partidas.

A viagem continua. À esquerda, há campos de mimosas e cavalos, do lado de lá da rede. Quando aparecem as casas, há dezenas de varandas viradas para o aeroporto. Vera aponta: é Camarate. Por esta altura, a visita devia seguir para o falcoeiro do aeroporto, criado para afastar as aves do espaço aéreo, mas o espaço está em obras.

Hoje, do aeroporto apenas se vê algumas antenas e telhados das casas do Bairro das Fontainhas, onde caiu a aeronave onde seguia o primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro – que viria a dar nome ao aeroporto do Porto. Mais à frente, ficamos a paredes meias com o aeroporto militar de Figo Maduro. Ali fica o acesso de segurança para saída de entidades de alta patente.

Socorro em três minutos

Soa o alarme. Abre de imediato o compartimento no topo do varão e um, dois, três homens descem a grande velocidade. Vestem o fato em dois tempos. Abrem-se os portões e os veículos já estão a funcionar. Os bombeiros não demoram mais de três minutos a chegar a qualquer ponto da pista onde sejam chamados. Idealmente dois minutos. É uma garantia de José Forte, supervisor de serviço nesta sexta-feira de manhã.

O seu turno começou às 8h e só terminaria 12 horas depois. Pelo meio são obrigatórias duas horas de ginásio e outras duas de formação teórico-prática. O centro tem 65 operacionais (54 homens e 9 mulheres) em permanência e em permanente alerta. Fazem a assistência nas aeronaves e nas pistas. Em caso de emergência ou necessidade de assistência nos edifícios de passageiros, deslocam-se ao local os Sapadores Bombeiros em apoio à equipa de segurança avançada daquela zona do aeroporto.

Nos últimos oito turnos, José teve seis emergências. “É uma adrenalina. A rotina é esta”. 

Subsolo lisboeta para ver por dentro

Galeria Técnica do Parque das Nações

Num pequeno troço da Alameda dos Oceanos, entre a Rua do Mar Vermelho e a Rua do Mar da China, foi construída, aquando da Expo 98, a Galeria Técnica do Parque das Nações. Esta infra-estrutura subterrânea aloja as telecomunicações em fibra óptica, rede de frio e calor e um sistema de recolha de resíduos sólidos, para além dos serviços públicos de água e electricidade que servem aquela área. É, segundo a EGEAC, “uma das mais relevantes infra-estruturas urbanas instalada no subsolo”, que pode ser visitada de até quinta-feira, 23 Março. As visitas, para grupos de 10 pessoas, duram meia hora.

Reservatório da Patriarcal

O percurso de 300 metros que separa o Reservatório Patriarcal, no Jardim do Príncipe Real, da Rua do Século faz parte do longo caminho subterrâneo da água que abastecia Lisboa pelo Aqueduto das Águas Livres. Até finais do século XIX, era nesta teia de túneis e galerias subterrâneas que a água era distribuída pelos chafarizes, palácios, conventos, hospitais e quarteis, entre outros espaços públicos e privados da cidade. Até então, eram o único meio de abastecimento hidráulico na cidade. Túneis, escondidos sob passeios e ruas, que podem ser visitados de 30 de Março a 1 de Abril. Cada visita é feita com 25 pessoa, durante cerca de 45 minutos.

Galerias Romanas de Lisboa

De 6 a 8 de Abril, durante 25 minutos, à medida que se entra no subsolo da baixa lisboeta, na Rua da Prata, recuam-se vinte séculos, ao império romano. As Galerias Romanas de Lisboa, datadas do início primeiro século depois de Cristo e descobertas na sequência do terramoto de 1755, ainda são alvo de diferentes interpretações sobre a função para qual foram construídas. Hoje, é praticamente unanime que foram um criptopórtico, uma solução arquitectónica no subsolo para suportar edifícios de grande dimensão à superfície, em zonas de declive ou pouca estabilidade geológica. Salvo estas excepções, as galerias são visitáveis uma vez por ano. As visitas já estão esgotadas, mas dia 20 de Março são disponibilizados os bilhetes não levantados até à data.

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