Alto Minho criou rede Aldeias do Mar para valorizar comunidades piscatórias

Projecto iniciado no anterior quadro comunitário vai prosseguir, para ajudar a criar novos negócios e emprego baseados na identidade local.

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Estudos revelam que cada pescador em actividade alimenta cinco empregos em terra, públicos e privados, dos portos à restauração Adriano Miranda

A Comunidade Intermunicipal do Alto Minho quer transformar os seus núcleos piscatórios marítimos e ribeirinhos em pólos de atractividade para o turismo e para novas actividades económicas sustentadas na cultura e identidade local. Os municípios de Cerveira, Caminha, Viana do Castelo e Esposende criaram, com verbas do último quadro comunitário, a rede de Aldeias do Mar, cujo site já está online, e têm dezenas de intenções de investimentos públicos e privados para prosseguir este projecto “emblemático”, como descreve o autarca de Viana.

José Maria Costa, que também preside a esta comunidade intermunicipal, espera que o actual Quadro Comunitário de Apoio, o Portugal 2020, consiga encaixar a ambição gerada no terreno em torno das Aldeias do Mar, um conceito que, num primeiro momento, abrange os núcleos piscatórios de Cerveira (no rio Minho), Vila Praia de Âncora (Caminha), o Campo do Castelo (Viana), Castelo de Neiva (Viana) e Esposende. A componente “piloto” do projecto, levado a cabo pelo Grupo de Acção Costeira (GAC) do Alto Minho e financiado pelo Promar, permitiu concretizar já algumas iniciativas, com os quatro milhões de euros disponíveis. Mas as verbas previstas para este GAC até 2020, ainda que ligeiramente superiores, não chegam para as intenções, e o autarca espera que seja possível apoiá-las noutros programas, como o Norte 2020 ou o sistema de incentivos às empresas.

Em causa estão investimentos na área do turismo – restauração e alojamento – da cultura e do lazer associados às tradições e identidade, de transformação de produtos da pesca e valorização de recursos mal aproveitados, como as algas ou os ouriços, ou até da eficiência energética e ambiental da própria actividade piscatória. Projectos que podem arrancar a uma escala local, gerando emprego, mas cujo potencial de implantação noutros pontos do território não é descartado. Aliás, o próprio conceito das Aldeias do Mar pode vir a ser espalhado pela costa, admitem os promotores.

Uma aldeia do mar, no conceito que serviu de base ao projecto, pressupõe “a existência de uma comunidade piscatória reconhecida e em actividade, localizada “numa área costeira ou estuarina, com expressão relevante e singular de uma atmosfera piscatória e/ou balnear e das respectivas actividades e tradições”, cuja preservação é valorizada. E propõe a instalação de “actividades e estruturas diversificadas ligadas à pesca e ao recurso água, bem como de outras ofertas, produtos e serviços complementares, que permitam destacar a identidade própria” destes locais.

É sob este chapéu-de-chuva que cabem investimentos públicos já levados a cabo, como o da requalificação de estruturas do núcleo da Ribeira de Viana, entre outros, ou iniciativas privadas como as intervenções em dois restaurantes da mesma cidade com uma carta que aposta no peixe fresco. “Os turistas quando chegam a um sítio destes valorizam a experiência de poder degustar as ‘iguarias do mar’, pescadas localmente, argumenta o autarca de Viana, que considera que o país tem de olhar de outra forma para estas pequenas comunidades. O Alto Minho já está dar uma ajuda, colocando online o site do Aldeias do Mar, um roteiro pelos cinco núcleos fundadores deste conceito produzido pela Associação ao Norte.

O autarca socialista lembra que os estudos económicos apontam que cada pescador em actividade alimenta cinco empregos em terra, em serviços públicos e privados em áreas como a dos portos, da logística, da transformação e da restauração. E, por isso, não tem dúvidas sobre a necessidade de manter vivas comunidades como a de Castelo de Neiva, com as suas pequenas embarcações a ocupar, em média, cinco pescadores cada. O que o presidente da Câmara de Viana acredita é que é preciso acrescentar a esta base um conjunto de novas vertentes, como a aquacultura (uma grande aposta) ou a criação de novos negócios em terra, desde o artesanato a projectos mais sofisticados.

O Aldeias do Mar apoiou a criação da empresa Conservas da Nena, que produz uma gama de conservas Premium com produtos endógenos da região, e que se lançou na comercialização de lampreia em escabeche. Já a Algaf - Algas de Afife  está a seguir uma tendência, mundial, de aproveitamento das algas marinhas sob a forma de especiaria/condimento para adicionar aos alimentos de uma forma geral e está a olhar para as suas qualidades como substituto do sal no fabrico de pão. Com o apoio tecnológico do Politécnico de Viana, está a ser desenvolvido um tipo de covo (armadilha de pesca) com materiais biodegradáveis e, noutra vertente, está a ser construída uma embarcação movida a gás natural, acrescenta José Maria Costa, explicando que a iniciativa vai prosseguir com a entrada de outro município da região, Valença, com tradições de pesca no Rio Minho.

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