A arte urbana chegou às casas-de-banho da Lx Factory

Dez artistas plásticos puderam usar a sua arte para redecorarem as casas de banho da fábrica criativa e torná-las tão interessantes como o espaço envolvente.

Fotogaleria
Burry Buermans Fernando Mendes
Fotogaleria
Jaqueline de Montaigne Fernando Mendes
Fotogaleria
Xana Sousa e Laura Korculanin Fernando Mendes

Sempre houve muita inspiração nas casas de banho públicas. Pelas paredes e portas, pintam-se juras de amor, ditados reais ou inventados, insultos, registos de presença ou frases ininteligíveis. Mas, tal como na rua, quer-se dar o salto dos vulgares rabiscos para a arte, concretamente a arte urbana. Na Lx Factory teve lugar a segunda edição do projecto Water Closet, da Mainside, em que dez artistas plásticos foram desafiados a darem novos visuais aos wc e o resultado, inaugurado no passado dia 10, é um misto de arte e sensibilização social.

Burry Buermans escolheu os trilobites para explorar a dinâmica feminino-masculino na casa de banho que lhe calhou Porquê? "Porque são fósseis marinhos dos quais não sabemos o sexo", diz. O artista, nascido perto de Torres Vedras mas criado na Bélgica, conta que quando chegou a esta casa de banho, acabou por entrar na das senhoras, porque não era óbvia a distinção, o que o levou a decidir facilitar a situação a quem viesse a seguir. “Quis fazer algo para tornar muito óbvio que ‘esta é das mulheres e esta é dos homens’, logo cá de fora, por isso peguei no cliché do ‘azul para meninos e cor-de-rosa para meninas’ para ser mais fácil”.

Pegando num outro cliché, que é o das decorações de casa de banho com motivos marinhos, usou as colagens, a sua grande paixão, para criar trilobites. “As colagens são feitas com cerca de cem desenhos, juntados na forma do fóssil. Primeiro foi preciso limpar o sítio onde ficam os desenhos, depois pôr os azulejos, usar uma tinta especial de casas de banho, para dar para limpar bem, e depois digitalizar o trilobite e imprimir em autocolantes para paredes, e ainda pus verniz em cima, senão as pessoas vão lá tentar tirar”. O gosto pelas colagens começou cedo mas só há cinco anos decidiu deixar Antuérpia e ir para Lisboa para abraçar as colagens, que têm sempre temáticas sociais como foco.

Já Xana Soares e Laura Korculanin decoraram o espaço que lhes foi destinado com o tema da floresta, um local a que se acorre “na hora do aperto” na ausência de wc nas imediações. Foi durante duas longas viagens pela Europa que Xana se deparou com o facto de ter de usar muitas vezes “casas de banho exteriores” e do tabu que estas ainda representam para a sociedade. Neste desafio, aliou-se a Laura, uma artista esloveno-croata e antropóloga que fundou o projecto Give a Shit, que estimula a consciência pública para dificuldades de acesso ao saneamento e ao abastecimento de água em muitos países do mundo. “De cada vez que usamos o autoclismo, gastamos mais água potável do que milhares de pessoas nos países em desenvolvimento têm para sobreviver no dia-a-dia”, diz. Contribuiu para a decoração da casa de banho com cocós dourados para chamar a atenção, não só para a situação daqueles que não têm acesso a sanitas, como também para o aproveitamento dos excrementos humanos como recurso energético, concretamente através da produção de biogás.

Jaqueline de Montaigne, por seu lado, concentrou-se nas relações interpessoais. A artista, ilustradora e activista internacional de direitos humanos, foi influenciada pelas suas viagens pelo mundo e, apaixonada pelo corpo humano nas suas mais diversas formas, usa-o sempre como tema das suas criações. “Muitas vezes cruzamo-nos com pessoas interessantes na casa de banho, com maneiras de pensar diferentes da nossa, e equaciono muitas vezes se voltarei a cruzar-me com elas”. Recorreu a figuras brancas, sobre um fundo negro, e que são a sua imagem de marca.

Além destes artistas, ainda participaram no projecto Maísa Champalimaud, Rita GT, Miss Inês, Jorge Maciel, Maria Sasseti, Joana Gomes, Ana Velez.

Texto editado por Ana Fernandes

Sugerir correcção
Comentar