A paragem está montada em Matosinhos, falta agora que o eléctrico lá chegue

Desde 1993 que o eléctrico não circula em Matosinhos. CDU quer reactivar a linha que ligava ao Porto para que o centro da cidade beneficie do potencial dos 400 mil passageiros que utilizam a ligação entre o Infante e o Passeio Alegre.

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Nuno Alexandre Mendes

A linha já lá está. São cerca de 800 metros de carris que atravessam a Avenida Norton de Matos, junto à praia de Matosinhos, entre a Praça Cidade São Salvador, ou rotunda da Anémona, como é mais conhecida, e o início da Avenida da República, onde termina. A vontade é de que se acrescente mais 200 metros de linha para que chegue até ao Senhor do Padrão ou ao Terminal de Cruzeiros. Ao mercado municipal, onde terminava o trajecto anteriormente, não chegará seguramente. Os antigos percursos do 1 e do 19 que cortavam a Rua Brito Capelo até chegar ao destino já estão ocupados pelo Metro. A tempo está-se, ainda que a terminar noutro destino, de reactivar o troço, diz o actual vereador da Mobilidade e dos Transportes da autarquia e candidato à câmara pela CDU, José Pedro Rodrigues, que nesta quinta-feira, numa acção promovida pela coligação pela qual foi eleito e volta a candidatar-se, inaugurou de “forma simbólica” a primeira paragem que poderá vir a marcar o regresso à cidade do eléctrico que circula no Porto, entre a Praça do Infante e o Passeio Alegre, e que outrora terminava no mercado de Matosinhos. 

A 11 de Setembro de 1993 as duas linhas de eléctrico que ligavam o Porto ao mercado municipal de Matosinhos deixaram de circular nesta cidade. A primeira partia da Praça do Infante e a segunda do Carmo. Actualmente, o trajecto que parte do Infante acaba no Passeio Alegre, na Foz. São cerca de 400 mil pessoas que por ano fazem este trajecto, “a maior parte turistas”. Ao Terminal de Cruzeiros de Leixões chegam, anualmente, aproximadamente 90 mil visitantes.

São estes números que levam José Pedro Rodrigues a acreditar ser fundamental reactivar o troço. “O eléctrico trazia muita gente ao centro de Matosinhos, ao mercado e ao pequeno comércio”, afirma, sublinhando o “potencial” em causa “para a vida económica da cidade”. O candidato da CDU traça uma relação directa entre a desactivação da linha, que passava na Brito Capelo, na altura conhecida como a “rua dos eléctricos”, e o declínio do comércio naquela zona comercial. Diz por isso ser um projecto que tem que ser posto em prática “o mais rápido possível”.

Enquanto candidato afirma que “entre outras” esta será uma das suas bandeiras. Na qualidade de vereador dos Transportes, terá já no ano passado desafiado a autarquia vizinha para que fosse desencadeado um projecto estruturante no âmbito do transporte turístico entre Porto e Matosinhos. Entre a Câmara de Matosinhos e a Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) terá sido estabelecido um acordo de princípio para tornar esta realidade possível. Ainda que actualmente a linha seja utilizada sobretudo por turistas é vontade do vereador que este troço esteja “integrado na rede de transportes públicos como alternativa de transporte da zona ribeirinha do Porto e da Foz até Matosinhos”.

O projecto está ainda no mesmo pé porque depende da acção do município vizinho. “O Porto requalificou a Avenida Brasil sem optar pela reposição da linha do eléctrico. Opção esta que não esteve em sintonia com compromissos assumidos pelo actual presidente da câmara nesta matéria”. Da Avenida Brasil até à rotunda da Anémona, que liga o Passeio Alegre a Matosinhos, faltam repor as linhas. “Enquanto isso não acontecer, ficamos reféns da câmara do Porto”, afirma. Relativamente à STCP, diz que a empresa continua disponível para ceder a linha para que o projecto possa ver a luz do dia.

Com José Pedro Rodrigues, no local onde foi montada a paragem, que não é mais do que um cartaz com as intenções da coligação, estavam o candidato à Assembleia Municipal, João Avelino Pereira, e o mandatário da CDU em Matosinhos, Valdemar Madureira. Com eles traziam um cartaz original de 11 de Setembro de 1993, “um dos muitos” que foram afixados na Brito Capelo no dia em que a linha foi descativada que tinha como frase de ordem: “Matosinhos fica mais pobre sem o eléctrico”. Diz Avelino Pereira que tal se veio a confirmar, com danos maiores para o comércio local.

Comércio que era procurado por Ofélia Matos, nascida em Lamego, mas residente na Foz há 54 anos, que passeava na marginal de Matosinhos. Era ao mercado de Matosinhos e à Brito Capelo que ia fazer compras antes de 1993. Para lá chegar ia de eléctrico. Mora onde a linha acaba actualmente. “Chega ao Passeio Alegre e volta para trás”, diz. “Deste lado a linha está feita, falta fazer o resto”. As compras já não as faz na Brito Capelo nem no mercado: “Desde que encerraram a linha nunca mais lá fui”.

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