Vão ser 1200 km convertidos em donativos para os Bombeiros Voluntários de Valongo

André Carvalho é designer da Câmara de Valongo e vai participar na prova de ciclismo de longa distância “Portugal Além-Tejo 1200”. Vai aproveitar os quilómetros sobre duas rodas para angariar dinheiro para os bombeiros.

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André Carvalho sairá de Lisboa, às 6h30 e tem 90 horas para concluir a prova sozinho e em autonomia total, sem qualquer apoio externo ou estruturas organizadas de suporte evr Enric Vives-Rubio

Noventa horas. 1200 quilómetros. Uma bicicleta. Um homem. Os Bombeiros Voluntários de Valongo. E para já, cinco mecenas dispostos a doar 10 cêntimos por quilómetro. São estes os intervenientes principais numa história que nasce nas cinzas das florestas ardidas.

Estamos em 2016. André Carvalho, funcionário da Câmara de Valongo, pedalava pelas subidas e descidas da Serra da Freita, em Arouca, na altura marcada pela devastação causada pelo fogo. As encostas de terra preta e as árvores castanhas, em sintonia com o negro do alcatrão e em contraste com o verde da floresta que não ardeu, deram origem a Freita de Negro, blogue onde o designer partilhou testemunhos e fotografias desse percurso.

Chega 2017. O funcionário da câmara, adepto de provas de ciclismo de longas distâncias em autonomia, decide participar na prova “Portugal Além-Tejo 1200”. Para isso, demonstra as suas capacidades fazendo brevets de 200, 300, 400 e 600 quilómetros. Ultrapassadas todas as etapas, chegou a altura da “distância rainha” de 1200 quilómetros e André Carvalho decidiu pedalar com um intuito extra: angariar fundos para os Bombeiros Voluntários de Valongo.

Vai partir de Lisboa, às 6h30, no dia 21 de Setembro. Tem 1200 quilómetros pela frente, rumo ao Sul do país. Vai descer pela costa Alentejana até ao Algarve, onde atravessará o país horizontalmente até à fronteira. Em seguida, rumará até Évora, fará um arco até Castelo de Vide, regressando para Lisboa, mas não sem antes voltar a passar pelo centro histórico de Évora. Tem 90 horas para fazer o percurso.

Captar atenção pela “invulgaridade do desafio”

“Vivo com alguma angústia a situação dos incêndios florestais e a destruição de património natural”, começa por explicar André Carvalho. “Percebi que, pela invulgaridade deste desafio, poderia conseguir captar alguma atenção e contribuir com uma ‘pequena gota no oceano’ para o trabalho dos bombeiros”, justifica o designer da Câmara de Valongo, relembrando o apoio que lhe foi dado pelas corporações de bombeiros quando fez a travessia Nacional 2 em 57 horas, no último mês de 2015.

Apesar de a prova em si não ter um intuito solidário, o residente de Valongo decidiu dar esse enfoque à sua participação individual procurando mecenas em empresas da sua zona de residência, bem como em Sobrado e Campo, abrangência territorial dos bombeiros voluntários. “Foram contactadas 60 empresas e entidades. Há receptividade no geral, mas nem sempre é possível às empresas avançarem para a parceria, quer por uma questão de lógica territorial ou de ligação emocional à causa”, afirma. Até agora, cinco empresas já deram o sim, em contraste com as 10 que responderam negativamente ao apelo. “Conto conseguir aumentar a taxa de resposta para, pelo menos, o dobro, também por efeito de contágio. O foco será conseguir um primeiro patamar de 10 mecenas, o que se traduziria num donativo global de 1200 euros para os bombeiros, caso complete a prova com sucesso”, explica, sendo que, dessa forma, cada mecenas se compromete a dar 10 cêntimos por cada quilómetro completado com sucesso.

Além das empresas e entidades contactadas por André Carvalho, todas as pessoas são convidadas a associar-se à iniciativa.

“Há muitas lacunas a ser supridas e cada uma destas iniciativas é uma pequena ajuda para que equipamentos essenciais sejam adquiridos e para que o trabalho possa ser feito com mais eficácia e menos risco”, garante. O valor arrecadado será utilizado na compra de novos equipamentos de protecção individual (EPI), que são compostos por capacete, cógula de protecção, um sistema respiratório isolante de circuito aberto, um alarme pessoal de segurança, umas botas tipo galocha e roupa, nomeadamente casaco, luvas e calças.

Com um preço por EPI a rondar os 2600 euros, este equipamento é essencial no combate ao fogo, explica o comandante dos Bombeiros Voluntários de Valongo, Bruno Fonseca. “Os bombeiros voluntários têm alguma dificuldade em ter melhores equipamentos. Não basta comprá-los, é preciso estar sempre a renovar e a rectificar”, afirma o comandante, relembrando que ainda é “do tempo em que vinha de um fogo com um casaco transpirado e o bombeiro que ia a seguir levava” com o seu suor.

“Do sofá para a maratona em três meses”

Para uma prova de longa distância em autonomia é preciso muita preparação, esclarece André Carvalho. Utiliza uma bicicleta moderna, com quadro em titânio, mas poderia utilizar outra qualquer. “É importante, mas não é relevante”, explica, referindo que um participante já fez uma prova numa bicicleta com mais de 100 anos. No entanto, há uma panóplia de equipamentos de segurança obrigatórios: “colete de alta visibilidade e reflector homologado segundo normativas europeias, luz frontal e traseira de iluminação permanentemente fixa à bicicleta, bem como luz frontal e traseira de reserva”. Além disso, o designer afirma que é recomendada a utilização de material reflector adicional, dado a existência da “clara noção de que os ciclistas são o elo mais fraco na estrada”.

Depois de asseguradas as necessidades técnicas, o funcionário da Câmara refere a preparação mental e física como essencial. “Vou do sofá para a maratona em três meses, devido a uma pequena lesão no pé direito”, confessa, garantindo, no entanto, estar confiante que fará uma “gestão correcta do tempo e da condição física, para completar o objectivo dentro do tempo limite”, para que assim todos os quilómetros se convertam em ajuda para os bombeiros.

Texto editado por Ana Fernandes

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