Refer "esqueceu-se" de acabar a estação ferroviária de Alcântara-Terra

O prazo das obras esgotou-se há dois
anos e meio, mas grande parte do interior do edifício continua em toscos

A estação ferroviária de Alcântara-Terra, que serve de terminal aos comboios da linha da Azambuja, está inacabada há mais de dois anos. O rés-de-chão do amplo edifício, totalmente renovado por fora, tem a maior parte do seu interior em toscos e ao abandono.Um painel informativo exterior diz que os trabalhos ficariam concluídos em Outubro de 2002. A Rede Ferroviária Nacional (Refer), empresa responsável pelo edifício, não dá explicações. A juntar ao abandono generalizado em que a zona do terminal ferroviário e da sua ligação pedonal a Alcântara-Mar, na linha de Cascais, se encontram há muito, o piso térreo da velha estação foi aparentemente esquecido pela Refer. Um decrépito placard do Ministério das Obras Públicas, instalado no passeio, anuncia a "remodelação do edifício da Estação de Alcântara-Terra"; indica que ela custará 1 milhão e 345 mil euros e acrescenta que ficará pronta em Outubro de 2002.
Quem olhar para o edifício de mais de uma centena de metros de comprimento julgará que a empreitada foi concluída e que, como acontece com frequência, ninguém se lembrou de remover o painel. Mas quem se aproximar das muitas janelas do rés-de-chão depara-se com dois longos espaços inacabados, com reboco grosso a cobrir as paredes e o pavimento e mais nada.
Uma outra sala, igualmente de grandes dimensões, encontra-se também em toscos, mas desta vez transformada em armazém de processos e pastas da Refer. Para lá das centenas de processos espalhados pelo chão e por armários provisoriamente instalados, vêem-se velhas cadeiras empilhadas, móveis de escritório desconjuntados e fotocopiadoras e computadores à espera de irem para a sucata.
Entre estas duas áreas esquecidas - cujo destino a Refer nunca esclareceu, apesar de há muito ter sido questionada sobre o assunto - há uma porta de acesso aos escritórios que a empresa tem a funcionar nos dois pisos superiores. No extremo norte do edifício, a sala de espera dos passageiros contraria igualmente a ideia de que a estação de Alcântara, praticamente sem actividade durante muitos anos, renascera com a sua reabertura no princípio da década de 1990. Nessa altura, em 1993, foi construída a estrutura metálica aérea que a liga a Alcântara-Mar através de escadas e tapetes rolantes, que estão sempre avariados e imundos e, também por isso, desertos.
Agora, passado o tempo em que muita gente acreditou que o regresso dos comboios ia reanimar a estação, a sala de espera é um espaço vazio e sem vida, com uma bilheteira que foi substituída por uma máquina de venda de bilhetes, e onde os passageiros se sentem perdidos como num ramal ferroviário de Trás-os-Montes.
Solicitada mais uma vez, ontem, a esclarecer quais as suas intenções para os espaços inacabados de Alcântara e para a estrutura metálica de 500 metros que a liga a Alcântara-Terra, a Refer nada disse. A propósito deste último equipamento - que muita gente preferia que fosse desmontado e retirado do local, como defendeu ontem no Jornal de Notícias o presidente da junta de freguesia José Godinho -, a empresa disse ao PÚBLICO em Agosto do ano passado que iria resolver o problema das suas constantes avarias "no mais breve prazo possível". Passados oito meses, continua tudo na mesma.

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