Instituição procura parceiros para recuperar palácio do Farrobo

O antigo palácio dos condes de Farrobo, situado numa das encostas sobranceiras a Vila Franca de Xira, entrou em acelerada degradação desde que, na década de 70, foi despojado das ricas estruturas de madeira que o constituíam. Hoje restam as paredes exteriores e dois grandes torrões, em parte forrados a azulejos, mas o edifício mantém um certo carisma, que leva a que se continuem a procurar alternativas de financiamento para a sua recuperação. Aqui chegaram a reunir-se as mais altas figuras da corte portuguesa. Existia mesmo um pequeno teatro que era uma réplica do São Carlos, onde actuaram das mais conceituadas companhias de ópera italianas.O imóvel é propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca, que já elaborou um anteprojecto de reabilitação, aprovado pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar). O principal óbice é a verba estimada para a recuperação do palácio: cerca de 15 milhões de euros, montante que a instituição não tem a mínima hipótese de suportar. A Misericórdia está, por isso, aberta a várias soluções de parceria. Já se falou num grande projecto social em ligação com a União das Misericórdias, numa pousada da juventude ou num hotel, mas o financiamento continua a ser um obstáculo difícil. Mais recentemente, em Fevereiro, a presidente da Câmara de Vila Franca de Xira aproveitou uma reunião com a José de Mello Saúde para tentar sensibilizar esta empresa para um possível projecto, em articulação com a Misericórdia. De acordo com o provedor da Misericórdia de Vila Franca, José Carvalho, os estudos efectuados admitem várias vertentes de aproveitamento do antigo palácio, envolvendo serviços sociais, um lar ou um centro comunitário para idosos ou uma pousada de juventude. "Não é um processo nada fácil e, nos tempos que vão correndo, receio que seja quase impossível concretizar-se", reconhece.O anteprojecto prevê a manutenção de toda a traça do exterior do edifício, alterando-o no interior de dois para três andares, porque a antiga estrutura tinha dois pisos bastante altos. "Já temos o parecer, concordante, do Ippar. É só preciso fazer o projecto de especialidades. Por fora fica o palácio que existia, com azulejos e a traça existente", explica o provedor, frisando está em aberto a definição da utilização futura do edifício. "Pode ser para todos os fins possíveis e imagináveis. Para fins sociais, uma pousada de juventude, um lar de idosos ou um centro comunitário com alojamento para idosos no âmbito do turismo sénior", refere. José Carvalho revela que a Misericórdia até já recebeu propostas para parcerias visando a instalação de um hotel no palácio do Farrobo. Mas se para a parte social poderá haver apoios da Segurança Social e do Estado, em relação a um eventual hotel a instituição não sabe sequer qual seria a posição do Ippar. "Nem a Misericórdia tem dinheiro para um investimento desta ordem, nem o próprio Estado", admite o provedor, acrescentando que está numa posição de expectativa. O hotel seria preferível ao actual estado de degradação do imóvel, defende.Degradação aceleradaO palácio do Farrobo foi construído no início do século XIX, próximo da localidade de Loja Nova, no interior da freguesia de Vila Franca. Já no início da década de 70 do século passado foi doado à Caritas vila-franquense. Segundo José Carvalho, o edifício encontrava-se então num estado razoável."Estava longe de estar tão degradado como agora. Precisaria de reparação, mas tinha ainda salas e um teatro que era uma réplica do São Carlos, só para 19 lugares, destinado a festas particulares do conde de Farrobo", explicou.Segundo o provedor, os responsáveis da Caritas de então terão decidido destelhar o edifício e desfazer algumas das estruturas, provavelmente para iniciar obras. Só que aconteceu, entretanto, o 25 de Abril de 1974. As pessoas foram afastadas, o palácio ficou abandonado e foi repetidamente saqueado até ficar só com as paredes de pé. "Ficou a saque. Tiraram madeira, pedra, tudo quanto puderam. Não sabemos mesmo se alguma coisa terá sido recuperada e levada para Lisboa, mas o palácio está muito degradado e ainda no ano passado caiu uma boa parte da fachada norte", recorda, acrescentando que a Misericórdia só tem podido desmatar regularmente o interior do palácio e reforçar as vedações envolventes.

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