Ex- funcionárias do Académico de Viseu pedem falência judicial do clube

A comissão administrativa que lidera o CAF esteve reunida com o administrador judicial do processo, para avaliar a viabilidade do clube. As funcionárias reclamam créditos no valor de 11 mil euros.

Depois de ter perdido o futebol profissional, o Clube Académico de Futebol (CAF) de Viseu corre agora o risco de desaparecer de vez devido a um processo interposto por duas ex-funcionárias da secção de natação que pedem a insolvência (falência) do clube. Ontem, a comissão administrativa que lidera o CAF esteve reunida com o administrador judicial do processo, nas instalações da sociedade anónima desportiva (SAD), para analisar a viabilidade da colectividade. Por enquanto, as portas do CAF continuam abertas, e, de acordo com o edital do Tribunal Judicial de Viseu afixado na porta do edifício, está marcada para dia 6 de Dezembro uma assembleia de credores. Apesar de terem o pagamento de salários regularizado e recebido as respectivas indemnizações quando foram despedidas em Julho de 2004, as duas ex-funcionárias da secção da natação assentam o pedido de insolvência na reivindicação de pagamento de 11 mil euros, uma verba referente aos vencimentos dos dois últimos anos (2003 e 2004). Segundo o então director da secção de natação, Graciano Loureiro, estes 11 mil euros reclamados resultam da diferença de vencimento estipulado no contrato colectivo de trabalho da Liga Portuguesa de Futebol, relativamente ao contrato colectivo de trabalho geral ao qual as funcionárias estavam afectas. "Após uma inspecção, o IDICT [Instituto de Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho] defendeu que estas, de acordo com a lei, deviam era estar abrangidas pelo contrato colectivo de trabalho da Liga Portuguesa de Futebol, cujo vencimento estipulado é mais alto do que o previsto no contrato de trabalho geral, e o subsídio de refeição ronda os seis euros", explicou ao PÚBLICO o antigo dirigente desportivo.
À saída da reunião de ontem, onde também esteve presente uma das ex-funcionárias requerentes deste pedido de insolvência, ninguém quis prestar declarações, afirmando apenas que se tratava de um "encontro de trabalho".
CAF continua a gerir
modalidades amadoras
Nos últimos meses, o Clube Académico de Viseu, fundado em 1914, e a sua SAD, constituída em 2002, para gerir o futebol profissional do CAF, têm enfrentado diversas dificuldades financeiras. A agonia que o CAF atravessa arrasta-se pelo menos desde Maio de 2004, altura em que, depois da demissão da direcção, se fala de extinção e se inicia a realização de uma maratona de oito assembleias gerais para que fosse encontrada uma nova equipa. Este ciclo termina a 11 de Março deste ano, com a nomeação de uma comissão administrativa, uma vez que ninguém se disponibilizou para assumir os destinos do clube.
Quatro meses depois de ter sido eleita e prestes a cessar as suas funções, para "fugir ao sufoco financeiro", esta comissão administrativa propõe a criação de um novo clube "que deveria manter o espírito do Académico". Os sócios adiam qualquer decisão, e, em finais de Julho, o CAF parece ganhar um novo fôlego com o aparecimento de uma nova comissão administrativa, cujo porta-voz era um ex-dirigente do clube, Armando Mões. Nesta altura, já também na SAD se discutia o futuro da estrutura, uma vez que, em Junho, a administração tinha apresentado a sua demissão, com a revelação de que o passivo rondava os 450 mil euros. No entanto, apesar do sufoco financeiro, a primeira tarefa da comissão administrativa de Armando Mões era resolver a crise desportiva instalada no clube, uma vez que o CAF acabava de ser impedido pela Federação Portuguesa de Futebol de inscrever jogadores na II divisão B da zona Centro, devido "à falta de pagamento de multas e alguns contenciosos com antigos elementos da equipa, sendo o mais significativo o que está relacionado com o ex-jogador Paulo Ricardo".
Apesar de várias tentativas de ultrapassar o diferendo com o ex-jogador e conseguir participar no campeonato deste ano, os esforços acabaram por se revelar sem sucesso e, em Setembro, a comissão administrativa propõe uma parceria com o Grupo Desportivo de Farminhão, que se disponibilizava para alterar a sua designação social para Académico de Viseu Futebol Clube, permitindo que o futebol sénior continuasse a ser praticado no Fontelo. A proposta seria aprovada pelos sócios numa assembleia geral que ficou marcada pela detenção do porta-voz desta comissão administrativa, Armando Mões, por burla agravada.
No dia 8 deste mês, o Académico de Viseu Futebol Clube, estreou-se no Fontelo. Apesar do futebol sénior agora ser gerido pelo Académico de Viseu Futebol Clube, as modalidades amadoras, nomeadamente, as camadas jovens do futebol continuam sob a alçada do CAF.

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