Haverá 257 mil doentes em lista de espera para cirurgia

É hoje apresentado o Relatório do Observatório dos Sistemas de Saúde, que analisa a governação no sector no último ano

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) calcula que, no final do mês, 257 mil pessoas aguardem por uma cirurgia nos hospitais públicos, mais 57 mil do que há cerca de um ano. Esta é uma das áreas do sector em que nada mudou com o novo Governo: persistem por definir e aplicar os tempos de espera aceitáveis para cada tipo de cirurgia, os doentes continuam sem saber quando e onde serão operados e não há informação sobre o andamento do programa.O sexto relatório da Primavera, hoje apresentado em Lisboa, diz que, apesar do espírito reformista do Executivo e da oportunidade de actuação permitida por uma maioria absoluta, a governação na Saúde está a ser feita muitas vezes sem "um fio condutor" visível e com lacunas de informação e planeamento.
Num longo relatório de 217 páginas, os peritos do Observatório - que anualmente analisam a acção do Governo na Saúde - debruçam-se sobre as medidas políticas tomadas pelo ministro da Saúde, Correia de Campos.
Os peritos concluem que "muito se fez e se anunciou neste último ano de governação", mas defendem que o objectivo da estratégia de certas decisões é pouco claro. É o caso da criação de unidades locais de saúde - envolvendo os hospitais e os centros de saúde - sem que se perceba o seu desenho e o futuro tipo de gestão.

Falhas de "planeamento"A falta de planeamento claro de medidas "que alteram substancialmente a estrutura do sistema de saúde" é também visível no encerramento de blocos de parto. Se as decisões são "tecnicamente defensáveis" não ficou clara a "existência de um planeamento" e nem as populações, nem os profissionais foram informados antecipadamente da forma como serão prestados os cuidados ou feito o sistema de transporte de grávidas.
O mesmo acontece com o fecho dos serviços de atendimento urgente nos centros de saúde e com o anúncio das futuras unidades de saúde familiar, dizem os membros do observatório coordenado pelo Pedro Lopes Ferreira, professor de Economia e Investigador do Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra.
Mas também há áreas em que pouco ou nada se fez: é o caso da recuperação de listas de espera em cirurgia. O Governo herdou uma lista de 200 mil pessoas, mas o ministro Correia de Campos desvalorizou este número, argumentando que, mais do que o número de doentes, são os tempos de espera que devem ser reduzidos.
Mais de um ano depois, continua por aplicar uma tabela com o tempo clinicamente aceitável para operar cada doença, o doente não sabe quanto tempo demorará a ser operado, nem tem a garantia de que a sua situação será resolvida, mesmo recorrendo ao privado.
O OPSS, citando números oficiais, lembra que, em Fevereiro, existiam 241.885 pessoas na lista, para a qual entram todos os meses 3760 novos casos. Se a necessidade de cirurgias se tiver mantido, os peritos calculam que, no final deste mês, os doentes à espera sejam já 257 mil.
Os dados oficiais mostram que 45 por cento aguardam por uma operação há mais de um ano (12 mil no mínimo há dois anos). Sobre os tempos de espera a análise é pouco profunda. Os peritos lamentam não poder esmiuçar a situação, porque o Ministério da Saúde lhes recusou informação específica. E salientam que a tutela está a violar a lei por não informar a Assembleia da República do andamento do programa.

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