Museu da Inocência abre na Primavera de 2012

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As conferências Norton foram recentemente editadas em turco BRENDAN MCDERMID/reuters

Era uma vez um amor sublime, contado em O Museu da Inocência do turco Ohran Pamuk - que teve a ideia de o transpor para um museu. O P2 pôde visitá-lo em Istambul

O Museu da Inocência, que dá título ao último romance do escritor turco Ohran Pamuk, distinguido com o Nobel da Literatura em 2006, deverá abrir em Istambul, Turquia, na Primavera de 2012. Fica num prédio pintado a cor de vinho na esquina entre a rua Çukurcuma e a Dalgic, como anunciado no livro. A Çukurcuma é uma rua muito íngreme, que se cruza com várias ruas mais pequenas, onde há restos de uma velha fonte em pedra branca e um estofador que alinha sob o sol uma fiada de cadeiras de vários estilos.Este é um bairro de sobe e desce, com lojas de ferragens, pequenos cafés, boutiques que ali chegaram recentemente e prédios estreitos, alguns alvo de recuperação estilizada.

Pamuk queixou-se ao Daily News (versão inglesa do Hürryiet publicado em Istambul e Ancara) da burocracia que tem enfrentado para fazer o museu, o que ditou o atraso na abertura. Mas o museu já está pronto e o escritor pode abri-lo "quando quiser". A inauguração será na Primavera de 2012, pois Orhan Pamuk estará ausente de Istambul para conferências nos EUA e quer estar presente na abertura.

No dia em que o P2 visitou o museu, o próprio Pamuk ultimava a colocação numa parede no rés-do-chão das beatasde Füsun (cópias em pvc), a amada de Kemal, o protagonista de O Museu da Inocência, um homem obcecado com um amor perdido, cuja história decorre em Istambul, cidade-referência do escritor. Andar após andar, fomos subindo umas escadas estreitas e em cada patamar (o prédio de quatro andares foi adaptado para o efeito) alinham-se vitrinas, 83 ao todo, uma por cada capítulo, exibindo o respectivo título.

É uma espécie de desfile de bens de consumo e testemunhos da vida na Istambul dos anos 70-80, apropriados pelo romance e aos quais foi dado significado particular na história de amor que narra: entre outros, as garrafas de soda Meltem, os bilhetes de cinema (e podem ver-se excertos de filmes a passar num pequeno ecrã na vitrina respectiva), cães de loiça que Kemal levava da casa da tia Nesibe, mãe de Füsun, fotos de jornal de um concurso de beleza, outras de um casamento, recortes com notícias, fotos dos ferries de Istambul (e os ferries ao vivo em imagens), ganchos, travessões.

A luz das vitrinas de moldura em madeira é suave e o que é perecível é reconstituído em pvc, como os gelados que Füsun deixou por acabar. Num dos patamares, pode ler-se uma citação do romance que refere a distinção feita por Aristóteles entre tempo e momentos únicos a que chama "presente". A sucessão desses momentos é uma linha que é o Tempo. O Museu da Inocência é, na verdade, um romance sobre o tempo, ou melhor, sobre como conservar o que o tempo albergou para obter uma espécie de tempo sem tempo - daí o museu.

O último andar, o esconso de um sótão, é o lugar do guardião do museu - aí fica o pequeno quarto de Kemal, com uma cama coberta por uma colcha em tons pastel, uma cadeira e uma arca. À saída, ouve-se um relógio, decerto o dos Keskin, pais de Füsun.

Orhan Pamuk, que em regra não gosta de falar do trabalho que tem em mãos, revelou ao Daily News que o seu próximo romance é sobre um vendedor de boza (bebida turca de malte) que vive em Istambul e autor propõe-se lidar com a realidade num estilo literário naturalista.

As conferências Charles Eliot Norton, que o escritor deu na Universidade de Harvard, em 2009-2010, foram reunidas num volume, The Naive and Sentimental Novelist, recentemente editado na Turquia. Nelas, Pamuk aborda a arte do romance - entre outros temas, o tempo, a linha narrativa e a relação entre romance e pintura.

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