Doença de Alzheimer

Na edição de 28 de Setembro de 2003, o PÚBLICO decidiu, e muito bem, chamar a atenção para os problemas com se deparam os doentes de Alzheimer e suas famílias ou prestadores de cuidados de saúde após o diagnóstico. A jornalista Joana Ferreira da Costa fez um trabalho a todos os títulos elogioso e também cuidado sobre os acontecimentos após o diagnóstico e focou, de forma geral e de fácil compreensão, sinais de alerta, ou precoces que podem levar à suspeita daquela doença degenerativa do sistema nervoso central (cérebro). Aliás, será bom fazer também entender aos leitores que a doença de Alzheimer é apenas uma de muitas outras demências (doenças degenerativas do cérebro). Infelizmente, naquele artigo não foi bem explicado que o diagnóstico diferencial dos diversos tipos de demência não é fácil pela história clínica e há muitas vezes necessidade de recorrer a meios complementares especiais para obter o diagnóstico mais correcto. A tomografia axial computadorizada, mais conhecida por TAC, e a ressonância magnética (também conhecida por NMR ou mesmo MR) contribuem pouco para a confirmação do diagnóstico clínico de doença de Alzheimer. Como o professor Alexandre Castro Caldas muito bem referiu, "o crescimento da doença é exponencial com a idade" - quer dizer, a população mundial, devido fundamentalmente aos avanços significativos feitos em prol da saúde e condições de higiene, tem visto aumentar a sua sobrevivência média. Com este aumento as doenças degenerativas cerebrais aumentam de incidência ou frequência. É, sem dúvida, muito importante e necessário melhorar as condições e qualidade de vida dos idosos e também daqueles que sofrem destas doenças demenciais. Mas é ainda mais premente obter um diagnóstico correcto tanto quanto possível de forma não invasiva e também muito perto do início da doença. Os medicamentos disponíveis para melhorar os sintomas dos doentes são mais eficazes no princípio da evolução da doença do que mais tarde. E esses medicamentos têm eficácia diferente em diferentes tipos de demências.O avanço tecnológico e científico tem dado passos gigantes durante as últimas décadas. O impacto da década do cérebro nos anos 80 levou a investimentos significativos na melhoria do diagnóstico e terapêutica das demências. Um desses avanços tem demonstrado cada vez mais a sua importância em vários ramos da medicina. A tomografia por emissão de positrões, PET, abreviação do inglês e acrónimo mundialmente conhecido, é uma técnica não invasiva que permite confirmar o diagnóstico da doença de Alzheimer. Através dela obtêm-se imagens do metabolismo da glucose (açúcar, que é o substrato fundamental das células do cérebro - os neurónios) no cérebro que representam como que uma fotografia "ao vivo" da actividade funcional/metabólica dos neurónios. Todos os cientistas e clínicos dedicados a este tipo de doenças sabem que o diagnóstico final com certeza só é feito após a morte e exame histopatológico do cérebro. PET com glucose permite fazer o diagnóstico "ao vivo" e com uma certeza suficientemente grande e significativa. Mais: esta técnica permite distinguir com facilidade doença de Alzheimer de outras demências, como, por exemplo, demência de tipo frontal (doença de Pick), demência de tipo vascular (acidentes vasculares cerebrais), etc. E também permite separar aqueles doentes que têm apenas depressão (muito frequente em idosos com deterioração das funções cerebrais ditas "cognitivas") daqueles que sofrem de demências, quer Alzheimer, quer frontais.Ainda com PET, em breve será possível fotografar (obter imagens de) a deposição de placas de amilóide, consideradas como um dos processos patológicos mais característicos desta doença.Em Portugal já é possível obter exames de PET cerebral. Existem dois departamentos que o podem realizar por rotina - um privado no Porto que iniciou as suas actividades em Outubro de 2002 e um outro público em Lisboa (...).

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