Casas de "alterne" de Bragança vão ter mais fiscalização

O governador civil de Bragança, José Manuel Ruano, reagiu ontem à denúncia de um grupo de mulheres, segundo as quais se está a verificar um aumento "desenfreado" da prática da prostituição na cidade: "Não querendo escamotear a situação, acredito que o fenómeno não tem a dimensão que se lhe pretende dar". Para averiguar a real dimensão do problema e depois "agir em conformidade", o governador vai, em conjunto com as forças de segurança locais, "tentar fazer um levantamento rigoroso da situação". Existem pelo menos dez estabelecimentos de diversão nocturna na cidade de Bragança conotados com a prática ou pelo menos favorecimento da prostituição. São frequentados por homens de todas as idades e condição social. Esta realidade já não é de agora, mas no último ano tem-se assistido à disseminação da actividade. Até então, as mulheres que supostamente se dedicam à prostituição mantinham alguma discrição, sendo a sua presença pouco visível nas ruas. Agora começam a mostrar-se mais, frequentam ginásios na cidade, cabeleireiros, fazem compras no comércio local; antes viviam nas casas onde trabalhavam; muitas dela passaram a alugar apartamentos em diversos pontos da cidade, mas não se relacionam com os vizinhos. A população em geral apercebeu-se da presença destas mulheres estrangeiras. "Pela forma como se vestem e pela forma como agem é fácil perceber que são mulheres que se dedicam à prostituição" refere um comerciante. A prostituição de rua ainda não é visível na cidade de Bragança. "Esta é uma das poucas cidades onde as mulheres podem andar sozinhas à noite e isso revela que ainda vivemos numa cidade segura", argumenta o governador civil. O que já se vê de dia parece previamente combinado. De vez em quando, ainda com pouca frequência, alguns homens recolhem nos seus carros mulheres que os esperam na rua, curiosamente nas principais avenidas. "Está a chegar a Bragança o que já existe no resto do país, sobretudo nas cidades mais movimentadas" afirma Alice Suzano, professora e membro do Movimento Democrático das Mulheres. As quatro mulheres que denunciaram o problema e que querem "expulsar" as estrangeiras da cidade conhecem de perto o "negócio". Todas elas acabaram por encontrar os maridos em casas de diversão nocturna "frequentadas por prostitutas", ou então em apartamentos, "onde essa mulheres viviam". "Não são as únicas, volta e meia aparecem aí mulheres, algumas até trazem os filhos, e ficam noites inteiras nos carros à espera que eles (os maridos) saiam dessas casas", refere um morador que vive ao lado de um estabelecimento conotado com o negócio do 'alterne'. "Algumas até lhes dão porrada e, se calhar, é por causa disso que eles procuram as brasileiras, são mais carinhosas" comenta outro morador. Mas as mulheres que resolveram encabeçar o movimento contra a prostituição garantem que o problema não se resume ao sexo: "Não é só sexo, nem algumas provocações que elas lhes façam e nós em casa não, há algo mais", refere Maria (nome fictício). "Não sei o que lhes fazem, só sei que ficam endrominados de tal maneira que não as conseguem largar" acrescenta. José Manuel Ruano defende que algo tem de ser feito: "Depois de conhecermos o problema temos de tentar, se não acabar com o crime, pelo menos dificultá-lo". O governador pretende que as autoridades intensifiquem a fiscalização "nas tais casas de espectáculos" e tentem provar se existe favorecimento da prática de prostituição, porque "obviamente, se existir, terão de ser encerradas". É voz corrente na cidade que algumas das casas mais conhecidas possuem quartos e luxuosas suites onde alegadamente as prostitutas recebem os clientes. Apesar de se "mostrarem" pela cidade as referidas mulheres estrangeiras não estreitam relações sociais com a comunidade local. Alice Suzano, defende que "as prostitutas também são vítimas" deste fenómeno. A rotina diária destas mulheres demonstra que vivem de alguma forma "escravizadas e o rendimento que retiram da actividade de certeza que não fica no bolso delas" defende. "A maioria destas mulheres são transportadas numa carrinha que as leva às compras ao cabeleireiro e ao restaurantes, mas sempre vigiadas por alguém", afiança um cidadão local. Aquelas que vivem em apartamentos, supostamente com maior liberdade de movimentos, são recolhidas ou por carros dos bares onde trabalham, ou por táxis, diariamente, por volta das 23h00 e "entregues"durante a madrugada. Algumas acabam por encontrar alguém que se "encante por elas" e que acaba por sustentá-las, mas nem todas têm a mesma sorte: "Eu divorciei-me do meu marido por causa de uma prostituta e agora sei que ele vive na casa onde eu morava com duas mulheres que supostamente pôs a render para ele", garante uma das denunciantes.O bispo de Bragança, Dom António Moreira Montes, mostra-se preocupado com este problema e defende que "estes comportamentos devem ser moralmente condenados". "As pessoas devem considerar que comportamentos desta natureza não são dignificantes, são uma exploração do sexo feminino" acrescenta. O bispo condena de igual forma "toda a publicidade feita na comunicação social", nomeadamente as linhas eróticas "que incitam a estas práticas".

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