Língua de vaca e rabo de boi, pelo chef Rui Oliveira

Ainda a Primavera não tinha chegado quando viajámos até ao Porto para mais um episódio. A cidade, conhecida pelos seus tons cinzentos, recebeu-nos com luz e um calor que antecipava a chegada desta estação.

No Largo do Ouro, junto ao rio Douro, reinava o silêncio de uma manhã de Segunda-feira. Casa de grandes mestres na arte da pesca e da arquitectura, durante anos eram poucos os que por lá passavam. Nem sempre foi um largo bem visto mas hoje, felizmente, a vida no largo é outra. Continuam a ser os mesmos, os fiéis, que ali vivem e trabalham, mas já são também muitos os de fora que reconhecem a sua riqueza. A vida de bairro e os seus moradores castiços são o encanto do turista; a esperança de encontrar Siza Viera ou Souto Moura numa rua, o desejo de qualquer um. O Largo do Ouro está a ganhar um novo olhar e, por lá, estão a fazer-se coisas que merecem visita.

O Antigo Carteiro é um dos projectos que nasceu e vive no “Largo mais bonito do Porto” como lhe chama Hélder Sousa, proprietário do restaurante. Depois de alguns anos a ser vizinho e cliente habitual d’O Carteiro, decidiu assumir os comandos do projecto e dar-lhe continuidade. O espaço permaneceu quase igual e, com a ajuda do jovem chef Rui Oliveira, a identidade da comida foi respeitada e mantida.

Naquele pequeno restaurante, onde chegam a caber 50 pessoas na época de Verão, vive-se ao ritmo de cada estação com o lema de fazer “Comida dos Pés à Cabeça”. As memórias e os produtos são a chave da experiência. Utilizam, sempre que possível, produtos da época e conhecem todos os produtores com quem trabalham.  A origem e o respeito pelos produtos são fundamentais e cada prato confeccionado é uma homenagem à comida tradicional portuguesa e aos próprios ingredientes.

No Antigo Carteiro fomos recebidos como amigos. Na esplanada, à mesa, descortinámos todo o conceito e história do projecto. A conversa ajudou mas os dois pratos que provámos, a Língua de Vaca e o Rabo de Boi, não poderiam ser melhor exemplo do que ali é feito. Duas receitas tradicionais com assinatura d’O Antigo Carteiro. Simples na confecção mas recheadas de sabores intensos e familiares. Não podemos deixar de mencionar o Pudim, um dos melhores que já comemos, cuja origem é segredo. Os vinhos Verdelho e Defesa Tinto 2015 trouxeram o Alentejo até ao Norte, num encontro feliz.

Estávamos longe mas, no Largo do Ouro, não nos poderíamos sentir mais em casa.

 

Receita

Ingredientes

Para a cozedura

1 língua de vaca
1 cebola
5 alhos
1 colher de sopa de pimenta em grão
Louro

Para a marinada

1 colher de sopa de azeite virgem extra
1 colher de chá de pimenta rosa
1 colher de chá de gengibre fresco ralado
Raspa de meia lima
Flor de sal/salicórnia

Sugestões de acompanhamento

Coentros
Ervilhas
Beterraba

Preparação

Cozer a língua com os restantes ingredientes durante cerca de uma hora. Depois de cozida, retirar todas as gorduras em excesso.
De seguida, cortá-la na fiambreira, ou com uma faca afiada. Deitar as fatias de língua na marinada, deixar apurar todos os sabores durante alguns minutos. Servir com gengibre
estaladiço e ervas frescas (coentros, ervilhas, beterraba).

Direcção Artística:
Tiago Pereira
Consultoria:
André Magalhães
Esporão:
Filipe Caetano, Catarina Santos, Afonso Sousa e António Roquette

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