Coronavírus

Cremações em massa, colapso dos hospitais: a catástrofe da covid-19 na Índia

Nos últimos três dias, a Índia atingiu um milhão de infectados por covid-19. Há doentes a morrer à porta de hospitais e o oxigénio escasseia. Especialista alerta: o pico da segunda vaga pode só ser atingido em Maio. 

Cremação de corpos de vítimas de covid-19. Nova Deli, 24 de Abril de 2021 REUTERS/Danish Siddiqui
Fotogaleria
Cremação de corpos de vítimas de covid-19. Nova Deli, 24 de Abril de 2021 REUTERS/Danish Siddiqui

As notícias dão conta de um cenário catastrófico. Há doentes a morrer à porta de hospitais, sucessivas cremações em massa, escasseia o oxigénio — e há quem o receba dentro do carro, sem nunca entrar na unidade de saúde. Os hospitais têm vindo a alertar para uma grave falta de camas, medicamentos e equipamentos médicos e alguns já suspenderam mesmo qualquer admissão de novos doentes.

Estão reunidos os ingredientes para uma tragédia: a nova variante mais transmissível do SARS-CoV-2 pode ajudar a explicar o aumento vertiginoso de novos casos, num país cujo frágil sistema de saúde não consegue dar resposta às necessidades.

Nos últimos três dias, a Índia atingiu um milhão de infectados, ainda que nas últimas 24 horas tenha registado a primeira descida de óbitos em 14 dias e de infecções numa semana: menos 41 óbitos e quase menos 30 mil casos. A situação está a preocupar a comunidade internacional e vários países já estão a enviar ajuda — Portugal incluído. E pode não estar perto de melhorar: à agência Lusa, Gautan Menon, especialista em modelos de previsão da pandemia, afirmou que o país só deverá atingir o pico da segunda vaga "em meados de Maio", podendo atingir os 500 mil casos diários.

"A situação actual é muito grave e a positividade dos testes é de mais de 20%, por isso já há uma grande transmissão comunitária, que não parece provável que baixe no curto prazo", disse o professor de Física e Biologia da Universidade Ashoka, na cidade de Sonipat, a 40 quilómetros da capital, Nova Deli, a braços com falta de oxigénio nos hospitais.

"A maioria dos modelos sugere que os casos vão continuar a aumentar e que o pico será provavelmente em meados de Maio", antecipou, prevendo que o número de casos "deva chegar aos 400 a 500 mil" por dia. "Actualmente, há cerca de 340 mil a 350 mil [casos] diagnosticados por dia, mas a testagem não parece estar a acompanhar o aumento de infecções, por isso pode parecer que estão a baixar, mas pode ser apenas por causa dos testes limitados", afirmou.

Saiba mais:

Cremação de um corpo de uma vítima de covid-19. Nova Deli, 23 de Abril
Cremação de um corpo de uma vítima de covid-19. Nova Deli, 23 de Abril REUTERS/Danish Siddiqui
Manoj Kumar senta-se ao lado da sua mãe, Vidhya Devi, enquanto recebe oxigénio dentro do carro em Gurudwara. 24 de Abril de 2021
Manoj Kumar senta-se ao lado da sua mãe, Vidhya Devi, enquanto recebe oxigénio dentro do carro em Gurudwara. 24 de Abril de 2021 REUTERS/Danish Siddiqui
Cremação em massa de pessoas que morreram de covid-19 num crematório em Nova Deli. 26 de Abril de 2021.
Cremação em massa de pessoas que morreram de covid-19 num crematório em Nova Deli. 26 de Abril de 2021. REUTERS/Adnan Abidi
Um profissional de saúde recolhe uma amostra nasal para fazer o teste à covid-19. Srinagar, 26 de Abril
Um profissional de saúde recolhe uma amostra nasal para fazer o teste à covid-19. Srinagar, 26 de Abril EPA/FAROOQ KHAN
Uma pessoa recebe oxigénio gratutiamente dentro do carro. Ghaziabad, 24 de Abril.
Uma pessoa recebe oxigénio gratutiamente dentro do carro. Ghaziabad, 24 de Abril. REUTERS/Danish Siddiqui
O corpo de uma pessoa que morreu de covid-19 pronto para o funeral. Nova Deli, 24 de Abril de 2021
O corpo de uma pessoa que morreu de covid-19 pronto para o funeral. Nova Deli, 24 de Abril de 2021 REUTERS/Adnan Abidi
Uma pessoa usa equipamento de protecção para se despedir de um familiar, que morreu de covid-19, antes da cremação. Nova Deli, 24 de Abril de 2021
Uma pessoa usa equipamento de protecção para se despedir de um familiar, que morreu de covid-19, antes da cremação. Nova Deli, 24 de Abril de 2021 REUTERS/Adnan Abidi
Cremações em Nova Deli. 24 de Abril de 2021
Cremações em Nova Deli. 24 de Abril de 2021 REUTERS/Adnan Abidi
Pessoas aguardam numa fila para receber a vacina contra o SARS-CoV-2 numa rua perto do centro de vacinação em Bombaim. 26 de Abril.
Pessoas aguardam numa fila para receber a vacina contra o SARS-CoV-2 numa rua perto do centro de vacinação em Bombaim. 26 de Abril. EPA/DIVYAKANT SOLANKI
Familiares choram a morte de Shayam Narayan no hospital Guru Ted Badahur. Nova Deli, 23 de Abril
Familiares choram a morte de Shayam Narayan no hospital Guru Ted Badahur. Nova Deli, 23 de Abril REUTERS/Danish Siddiqui
Um homem senta-se ao lado de corpos de pessoas que morreram de covid-19 antes de uma cremação em massa. Nova Deli, 26 de Abril de 2021
Um homem senta-se ao lado de corpos de pessoas que morreram de covid-19 antes de uma cremação em massa. Nova Deli, 26 de Abril de 2021 REUTERS/Adnan Abidi
A sepultura de Laeeq Ahmed, de 67 anos, que morreu de covid-19. Nova Deli. 27 de Abril de 2021
A sepultura de Laeeq Ahmed, de 67 anos, que morreu de covid-19. Nova Deli. 27 de Abril de 2021 REUTERS/Adnan Abidi
Visão geral de uma auto-estrada deserta durante o confinamento do fim-de-semana. Bangalore, 24 de Abril de 2021.
Visão geral de uma auto-estrada deserta durante o confinamento do fim-de-semana. Bangalore, 24 de Abril de 2021. EPA/JAGADEESH NV