A semana em que o abandono animal se fez labareda

Abrigos ilegais como o de Santo Tirso, palco de um incêndio que matou 73 animais, proliferam por todo país, potenciados pela incapacidade dos municípios de lidarem com a quantidade de cães e gatos abandonados.

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Foi como um fogo na noite. Uma labareda que se ergue na floresta de ignorância, de indiferença, ou de simples impotência que esconde o que algumas vozes já vinham dizendo: o abandono animal está, entre nós, fora de controlo, como um incêndio alimentado por insensibilidade, irresponsabilidade, e até pelo vendaval das crises que tiram, a algumas famílias, o que comer.

Em 2018, tornámo-nos um dos países mais avançados do mundo. Quem gosta de abater animais que atire a primeira acha para a fogueira da discórdia instalada! Mas, como dizia esta semana ao PÚBLICO a presidente da associação portuguesa de veterinários municipais, alguém se esqueceu "que a mentalidade não se muda por decreto". Abrigos ilegais, como os que país descobriu em chamas em Santo Tirso, existem, insistiu o presidente da Ordem dos Veterinários, um pouco por todo o lado.

Disfarçam, como o vento que empurra o cheiro da terra queimada para longe, a incapacidade dos municípios, que deixaram de poder minimizar o problema com uma injecção letal, mas queixam-se de não ter recursos para abrigar tanto cão e gato atirado para a rua.

No meio do fogo, salvaram-se os bichos que se puderam salvar, e aqueles que ali acorreram, ou que de longe ajudaram quem lá foi. Alguns já faziam disto uma missão voluntária, e quotidiana. Outros fizeram-se ao caminho pela primeira vez. Em Portugal, o melhor de nós aparece sempre nos desastres. Mas era bom que percebêssemos, os que estávamos distraídos, que este desastre ainda não acabou.