Uma casa esquiva que brinca ao modernismo no meio da Mouraria

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O bairro da Mouraria, em Lisboa, conta, deste o início deste ano, com um novo edifício reabilitado: a Dodged House. Projectada pelos arquitectos Leopold Banchini e Daniel Zamarbide, a residência segue as linhas do minimalismo tradicional: formas assimétricas, uma impenetrável fachada branca e janelas em arco. Tudo referências aos primórdios do modernismo sem depreciar o contexto arquitectónico contemporâneo.

Há cinco anos, quando o espanhol Daniel Zamarbide adquiriu o edifício onde hoje vive, este bairro lisboeta ainda não estava "fortemente atacado pelo turismo e pelo efeito Airbnb", o que ainda lhe permite ter "uma mistura agradável de todos os géneros de pessoas". Na residência, concluída há poucos meses, a divisão dos espaços é feita através da implementação de andares, ou pisos, de cimento – três sem contar com o da entrada. A uni-los está uma escada de caracol que se estende pelos quatro pisos. Os 40 metros quadrados que compõem a propriedade permitiram ainda assim aos arquitectos criar três quartos repletos de luz natural – o vidro que divide os espaços ajuda.

Os apontamentos simples, feitos em madeira e em cimento para contrariar o branco uniforme, dão conforto a uma habitação que foi construída através de técnicas low cost para concretizar a ideia de “casa acessível". As referências a Portugal surgem um pouco por todo o lado, como nos azulejos ou nas pedras de origem local usadas na mobília, nas paredes e no chão. Para Zamarbide, existem muitos edifícios na capital portuguesa que podiam sofrer intervenções semelhantes, já que esta abordagem "beneficia o espaço em detrimento dos metros quadrados", diz, em declarações enviadas por email ao P3. Uma técnica que, diz, pode ser usada para contornar, se é que tal é possível, a especulação imobiliária que actualmente se regista em Lisboa e no Porto, já que este espaço foi desenhado e construído "em torno da ideia de espaço, volume e interior vazios”.

É no exterior que é feita uma das maiores afirmações arquitectónicas de toda a obra. A fachada que dá para a rua manteve-se praticamente inalterada — foi acrescentada apenas uma janela similar à dos edifícios vizinhos —, uma alusão ao rápido processo de mudança que os dois principais núcleos urbanos portugueses sofreram nos últimos anos. Todas as janelas se encontram tapadas, numa afronta directa às reconstruções e recuperações “instagramáveis” que surgiram face ao fluxo exponencial de turistas e numa referência ao número de casas fechadas e degradadas que caracterizava os centros históricos de Lisboa e Porto. "Como o próprio nome indica, a Dodged House é uma tentativa de aludir, de brincar com o actual estado de uma certa arquitectura em Lisboa." Uma pequena casa esquiva. Para Zamarbide, a actual aposta no turismo é "positiva", mas faltam medidas para controlar a especulação e do "efeito Airbnb", à semelhança do que acontece em cidades como Barcelona e Berlim. Mesmo assim, o arquitecto não duvida da capacidade de Lisboa em "reinventar outro tipo de solução".

Também Irving Gill, arquitecto norte-americano nascido em 1870, teve a sua quota-parte neste projecto. A habitação é, afinal, uma referência directa à sua obra Walter L Dodge House que foi construída no início do movimento modernista — é, inclusive, tida como um dos primeiros exemplos arquitectónicos deste movimento. No fim de contas, Daniel Zamarbide descreve a sua casa como "bastante simples e fácil de ler, ainda que possa ser complexa na sua inserção no tecido urbano e no contexto histórico". Mesmo assim, "a forma como ocupa o espaço e distribui todo o seu conteúdo numa parcela de dimensões pequenas é bastante simples".

Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide
Desenhado por Leopold Banchini e Daniel Zamarbide ©Dylan Perrenoud