O corpo de uma mulher madura também merece ser amado

©Diogo Duarte
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Para uma mulher, envelhecer pode ser um processo desafiante. Jessica Mitchell, a protagonista da série fotográfica Sour-Puss: The Opera, da autoria de Diogo Duarte, sentiu, com o avançar da idade, "emoções contraditórias", confessou ao P3. "Por um lado, sentia-me sensual, poderosa e com uma história de vida interessante", explica. "Mas por outro, sentia-me preocupada com a morte e bastante alerta para o facto de a nossa cultura perder o interesse em mulheres com a minha idade, com corpos como o meu." Foi com o intuito de desafiar o estereótipo de beleza e envelhecimento no feminino que a psicoterapeuta britânica de 52 anos "deu o corpo às balas" e se entregou, corajosa e despudoradamente, ao projecto do lisboeta. Jessica ama o seu corpo "e tudo o que ele representa".

Diogo Duarte sente, enquanto fotógrafo, prazer em confrontar o público com imagens incomuns, que causam desconforto, explicou ao P3. Mas não foi esse o móbil para o desenvolvimento de Sour-Puss: The Opera, que estará, a partir de dia 25 de Janeiro, em exposição no Celeiro da Patriarcal de Vila Franca de Xira, a propósito da 15.ª edição da Bienal de Fotografia da cidade. "O corpo da mulher madura é frequentemente ignorado em muitas, senão todas, as áreas da sociedade", constata o jovem de 31 anos. "Em contos de fadas, a mulher madura está associada à feitiçaria, a algo que deve ser receado; acho que esse arquétipo, de algum modo, penetrou o subconsciente colectivo. [Com o projecto,] quero mostrar que a mulher madura não tem de ser vista dessa forma."

A recente polémica que envolveu o autor e realizador Yann Moix, que afirmou que as mulheres com mais de 50 anos são "muito velhas" para amar, não passou despercebida a Diogo Duarte. E é, precisamente, na direcção oposta que o seu projecto pretende abrir caminho. "As suas afirmações cimentam a ideia arcaica de que a mulher mais velha deve ficar na sombra", comenta. "Acho que é necessária a representação de todos os tipos de pessoas." Até porque, afinal, o envelhecimento será vivido por muitos de nós. Sour-Puss: The Opera narra um drama "universal", adjectiva o fotógrafo, a viver no Reino Unido desde 2007. "Todos vivemos uma luta interior contra as pressões da sociedade, divididos entre sermos verdadeiros connosco ou agradar ao próximo."

Diogo trabalha hoje em dia como fotógrafo freelancer e é professor na London School of Photography. Só recentemente deixou de trabalhar em Psicologia — foi até há bem pouco tempo gestor de projectos para a organização Samaritans na área de prevenção ao suicídio. Talvez por partilharem o mesmo background na área da saúde mental, Jessica e Diogo experienciam o mundo de uma forma semelhante, algo "dramática". Motivo por que consideram haver, na série que desenvolveram em conjunto, "tanto humor como tragédia". A escolha do título reflecte essa descontracção. "'Sour-Puss The Opera' ou, em português, A Ópera da Coitadinha é uma escolha de título com humor", refere. Mas Diogo deixa claro: Jessica "é tudo menos uma 'coitadinha'": "É uma mulher inspiradora que não tem medo ou vergonha do seu corpo." É uma das muitas qualidades que admira.

Gostas de fotografar e tens uma série que merece ser vista? Não consegues parar de desenhar, mas ninguém te liga nenhuma? Andas sempre com a câmara de filmar para produzir filmes que não saem da gaveta? Sim, tu também podes publicar no P3. Sabe aqui o que tens de fazer.

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