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Os “limites trágicos” que definem “uma mulher decente”

©Phumzile Kanhyile
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Nasceu no Soweto e vive em Joanesburgo. Phumzile Khanyile, autora da série de fotografias Plastic Crowns, ainda teme pela sua vida quando sustém uma câmara fotográfica em público, contou ao P3. “Fui atacada quando dei início a este projecto”, refere sucintamente. “Tem sido um desafio ser mulher na África do Sul”, comenta, reticente. Questionar o papel da mulher no seio da sociedade sul-africana é o objectivo da fotógrafa e deste projecto. “As ideias estereotipadas que foram construídas especificamente para as mulheres [na África do Sul] não servem o meu contexto particular, motivo por que me dei permissão para questioná-las e decidir, sozinha, o significado de feminilidade.”

Phumzile explora muito para além dos limites “trágicos” que definem “uma mulher decente” — aqueles que a sua avó lhe ensinou a não ultrapassar. “Ter vários parceiros sexuais pode ser uma questão de opção e não um indicador de má índole, como é sugerido pelas convenções sociais”, exemplifica. “Uso balões coloridos com frequência na construção do meu corpo de trabalho. Eles representam diferentes parceiros sexuais e a sua presença tem como objectivo desafiar a ideia de que uma boa mulher deve ter apenas um parceiro sexual, casar-se e ‘assentar’. Também uso cigarros, ostensivamente, porque a minha avó me contava histórias de mulheres que fumavam em segredo nas casas de banho.” Fumar era, então, tido como um hábito pouco feminino.

O título do trabalho, Plastic Crowns, vai ao encontro da ideia do depauperamento de um objecto nobre, a coroa, e da sua transformação num objecto acessível a qualquer pessoa, que assim passa a ter o poder de se autoproclamar rei ou rainha do seu próprio corpo e identidade. O plástico, acessível, barato e descartável, remete para a livre sexualidade e troca de parceiros. Enquanto dispara, Phumzile cobre a sua objectiva com acessórios femininos, como véus ou vestidos; esse velamento é uma metáfora que remete para o controlo da sexualidade feminina. “Esta técnica também confere às imagens um aspecto fílmico, nostálgico.”

Phumzile nunca imaginou que um dia veria os seus auto-retratos expostos em Portugal. O festival Évora África, que expõe Plastic Crowns no Palácio Cadaval até 25 de Agosto, define o seu trabalho como “um diário privado de snapshots informais” de “estética sombria, desgastada e texturas exuberantes”. Para além do trabalho de Phumzile, o festival recebe obras de 16 artistas contemporâneos de todo o continente africano — entre eles, Malick Sidibé, Filipe Branquinho, Mauro Pinto e Amadou Sanogo.

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