Um retrato de Cuba na ausência de “El Comandante”

Fotogaleria

“Querido povo de Cuba, é com profunda dor que [aqui] compareço para informar o nosso povo, os amigos da nossa América e do mundo, que hoje, 25 de Novembro de 2016, às 22h29, faleceu o comandante-chefe da Revolução Cubana, Fidel Castro Ruz." O anúncio de Raúl Castro, que sucedeu ao irmão em 2006, confirmou um cenário que há muito se temia e que deixava imerso num mar de incertezas o futuro do estado cubano.

 

Dois dias depois do depósito das cinzas de Fidel Castro no cemitério de Santa Ifigénia, em Santiago, em Dezembro de 2016, os fotógrafos portugueses Carlos Lopes Franco e Luís Câmara aterravam em Havana. Vivia-se então um período especial. A onda de choque causada pela morte de El Comandante dissipava-se lentamente, deixando visíveis apenas indícios de luto e pesar no quotidiano da população cubana.

 

Progressivamente, a vida de todos os dias regressa à normalidade. "Embora se notem ainda olhares fixados no horizonte, como que à procura de uma referência perdida, voltam-se a trocar sorrisos num ambiente onde a perda e a esperança se cruzam", descrevem os autores das fotografias que compõem a exposição e o fotolivro intitulados Cuba: Ano Zero?, que se insere na quinta edição do Festival Internacional de Fotografia de Avintes (iNstantes), com inauguração marcada para 3 de Fevereiro na galeria Mira Fórum, no Porto, pelas 17h. "A vida volta a pulsar", descrevem. Por Havana, Pinar del Rio, Viñales, Cienfuegos, Trinidad, Sancti Spiritus, Santa Clara, "a vida ia sendo normalmente retomada com a rica espontaneidade que veste o quotidiano deste país único". Os fotógrafos ouviram música soar timidamente, "depois de silenciada durante os dias precedentes". "As gentes da cidade voltaram à sua luta diária nas ruas (...), os campesinos encheram os mercados com produtos das suas hortas e pomares (...), o incontornável e apaixonado culto dos cubanos pela geladaria" retomou à sua exuberante normalidade.

 

Cuba: Ano Zero? revela um país que recupera do traumatismo da perda do homem que pautou o quotidiano cubano durante 49 anos. A interpretação subjectiva dos fotógrafos, ambos engenheiros e auto-didactas na área da fotografia, poderá ser vista até 4 de Março.