Ilha, um prédio deitado que é casa

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Ilha é mais do que uma exposição de fotografia. É uma exposição com vidas dentro, e fora, em transbordo. Feita a tantas mãos, com tantas impressões digitais, que deixa um nó na garganta. Pelas histórias que desarmam pela sua realidade. Pela leveza tão dura de imagens de quem, até há bem pouco tempo, nunca tinha pegado numa câmara. Pela sensação de que tudo o que se vê pode bem estar em vias de extinção.

Durante dois anos, a Rede Inducar desenvolveu “Retrato das Ilhas – Bonfim para além das fachadas”, um projecto financiado pelo programa PARTIS da Fundação Calouste Gulbenkian focado na dinamização comunitária através do teatro (responsabilidade da PELE) e da fotografia (responsabilidade de Paulo Pimenta). Esta exposição, patente no Centro Português de Fotografia, no Porto, até 25 de Março, é o último momento desta longa maratona de trabalho, apresentando imagens do fotojornalista do PÚBLICO, lado a lado com as que foram capturadas pelos participantes, neste caso, as crianças e os idosos da associação O Meu Lugar no Mundo e do Centro Social Senhor do Bonfim. Lado a lado com os seus textos, espontâneos contributos que tanto descrevem fotografias como perscrutam memórias. Um processo longo que pode ser conhecido em pormenor esta sexta-feira, pelas 17h, numa visita guiada por Paulo Pimenta.

Juntos respondem a perguntas. O que é estar dentro e fora de uma ilha, os bairros operários que cresceram no Porto em finais do século XIX? Que memórias perduram, nas paredes, nas pessoas, nas ruas? Que futuro, numa altura em que a gentrificação já não é um palavrão e ameaça a jugular da cidade? “A ilha para mim é um prédio deitado”, diz um morador num dos vídeos que integram a exposição. Um prédio deitado que é casa.