Gilberto deu uma palavra aos sem-abrigo, eles deram-lhe uma lição de vida

Fotogaleria

No início do ano, Gilberto Silva tomou uma decisão. Queria fazer voluntariado nos “giros de rua”, conhecer as histórias de quem vive sem um tecto e documentar essa experiência. A associação Integrar, em Coimbra, abriu-lhe as portas. E o engenheiro biomédico, investigador na Universidade de Coimbra, surpreendeu-se com aquelas vidas nas ruas suspensas. “Mais do que a refeição do dia, os sem-abrigo procuram nos voluntários um ser humano: alguém disponível para conversar e para os ouvir”, disse por email ao P3. Foi ao perceber como aqueles homens e mulheres era “ignorados” por quase todos que Gilberto lhes descobriu a necessidade maior. Uma palavra, ou duas. Compreensão. “E isto não é querer ser generoso para eles. É também sermos generosos para nós.” Ao entrar naquele mundo desconhecido conheceu gente que tem casa mas prefere viver na rua, “porque em casa a solidão é maior”. Fotografou-as. E ao imprimir as imagens para lhes mostrar os seus rostos, a reacção de surpresa: “Este sou eu? Estou mais velho…”, diziam-lhe. “O tempo passa mais rápido para quem não se olha ao espelho todos os dias. Na rua não são precisas só gorjetas, ou refeições”, escreve como quem faz um apelo. O investigador de 25 anos, apaixonado por fotografia (recentemente fez um trabalho sobre a imensa costa portuguesa), não podia ter ficado mais feliz ao ver as reacções dos portugueses na recente tragédia de Pedrógão Grande. “Somos um povo tipicamente acolhedor e solidário, é incontestável.” E é esse sentido gostava de ver mais nas cidades portuguesas — “num tempo em que está na moda ser-se voluntário fora do país, eu diria que há muito para descobrir, também por aqui.”