Eles nunca abandonaram Tchernobil

Uma das muitas casas abandonadas em Tchernobil
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Uma das muitas casas abandonadas em Tchernobil

A 26 de Abril de 2016 fará 30 anos que decorreu o pior desastre nuclear da História. A enorme explosão na central nuclear de Tchernobil lançou para a atmosfera uma enorme quantidade de partículas radioactivas altamente perigosas a saúde de qualquer ser vivo. Em consequência, num raio de 30 quilómetros do epicentro da catástrofe foi criada uma "zona de exclusão", área de acesso estritamente proibido. Os residentes dessa área foram evacuados e muitas das aldeias foram mesmo destruídas por buldozers para impedir o regresso dos seus habitantes.

Algumas aldeias, no entanto, permaneceram intactas e para alguns dos deslocados o regresso foi inevitável. O fotógrafo holandês Rob Severein esteve nas aldeias em redor da cidade-fantasma de Pripiat, no norte da Ucrânia, e conheceu alguns dos 1200 habitantes da zona de exclusão. "Apesar dos muitos riscos para a saúde, eles regressaram ilegalmente às suas casas nos anos que se seguiram ao desastre", disse Rob ao P3 em entrevista. "São na maioria pessoas idosas que consideram ser impossível viver noutro lugar e sentem uma grande ligação ao local onde cresceram. Todos sabiam que regressar a essa área era ilegal, era estritamente proibido [e ainda é] sequer pisar o local. Não tiveram qualquer ajuda das antigas autoridades soviéticas ou do posterior governo ucraniano, tiveram de tornar-se completamente auto-suficientes." Sabiam também que os riscos para a saúde que poderiam advir da permanência no local eram "incalculáveis". "Quanto tempo iriam aguentar até sucumbirem aos sérios problemas de saúde decorrentes — como o cancro? Ninguém sabia e por isso ninguém queria verdadeiramente saber."

Rob Soverein obteve permissão das autoridades ucranianas para permanecer no local apenas durante dois dias e sob vigilância de um "guia" que falava mal inglês. "Por sorte, sabia o suficiente para traduzir as perguntas", observou. Estar no local suscitou a Soverein uma panóplia de emoções. "Por um lado, tinha perante mim a beleza da decadência e a incrível hospitalidade das pessoas. Por outro lado, não podia deixar de pensar no que tinha acontecido em 1986, as horríveis histórias... Todas as pessoas que conheço sabem responder à pergunta de quando e onde estavam quando a catástrofe em Chernobyl aconteceu. Foi um pouco como o 11 de Setembro." Rob Severeign estudou na Photo Academie, em Amsterdão e trabalha como director de arte e fotógrafo. O seu trabalho tem um forte cunho narrativo e documental. Ana Marques Maia

Nadya Korovchenko, 74, vive há quase 30 anos na zona de exclusão com as suas galinhas e memórias
Centenas de máscaras de gás espalhadas pelo chão
Relíquia comunista na escola número 3 de Pripyat, Chernobyl, onde a Educação era uma prioridade
Yevgenie Markovitjs, 77, regressou por achar mais desastroso viver num pequeno apartamento em Kiev
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O processo de decomposição de matéria orgânica é lento pela ausência de insectos, micróbios e fungos
Agricultura caseira à base de solo poluído da área contaminada
Paskara Lavriejenko, 59, modesta, hospitaleira e algo silenciosa
O acesso à electricidade é muito limitado pelas autoridades ucranianas
Tanja Ivanovich Gala vive sozinha com o seu cão. Planta vegetais e dá apoio a uma vizinha doente
A roupa a secar no exterior da casa de Tanja Gala