A tradição da dança do urso

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A fotógrafa Diana Zeyneb Alhindawi nasceu em Moinesti, na Roménia, onde a tradição da "Dança do Urso" se repete anualmente no período entre o Natal e o Ano Novo. "O desfile e as performances são muito joviais, cheias de encanto e de algo mágico", descreveu ao P3. "Os olhos dos espectadores parecem acender-se perante as trupes de ursos que dançam hipnotizados. Enquanto acompanhava a trupe de Taloaca através da noite gelada, envolvida por um forte nevão e vento glaciar, o rufo dos tambores da canção "O Domador de Ursos" ecoava através das vielas da aldeia. Senti-me como se vivesse um conto de fadas." É por toda a região do vale Trotu? que, desde 1930, a tradição de origem cigana afasta os espíritos malignos. Há décadas atrás, os ciganos desciam às aldeias a partir das florestas onde viviam e traziam consigo ursos verdadeiros. Os aldeãos pagavam-lhes para que prestassem um insólito serviço, pediam-lhes que as crias dos ursos andassem sobre as suas costas - o que era, na altura, visto como uma cura para as dores dorsais. Os ursos mais velhos "dançavam" sobre placas incandescentes em troca de moedas. "A população cigana foi gradualmente excluida desta tradição porque as peles de urso se tornaram raras e caras em consequência da já antiga proibição da caça do urso. Uma pele de urso pode custar até dois mil euros, hoje em dia. Por vezes aparece uma trupe cigana, mas normalmente têm apenas uma pele de urso já muito desgastada. As melhores peles foram vendidas aos líderes das trupes mais abastadas que detêm geralmente entre 25 a 60 peles de urso." As trupes de ursos visitam as casas que as esperam de porta aberta. Os habitantes sabem que a visita trará alguma confusão, mas também muita alegria. "Em homenagem às origens deste costume, as trupes incluem também personagens que usam vestes ciganas: longas saias esvoaçantes, perucas com tranças compridas, fuligem sobre a pele para a escurecer", descreveu a fotógrafa. "Perguntei a vários ciganos o que pensavam sobre as caras pintadas com fuligem, se as achavam ofensivas. Responderam-me que não, pelo contrário, que viam esse retrato como um elogio e uma homenagem ao papel histórico que desempenharam na tradição, que sentiam dessa forma não terem sido esquecidos ou apartados da performance." A "Dança do Urso" sobreviveu até aos dias de hoje "graças aos esforços dos governos locais, que organizam competições e que incentivam as trupes a participar", observou Diana. Uma petição foi submetida à UNESCO no sentido de salvaguardar a tradição através da integração na "Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade", mas não existe ainda decisão da organização. Diana fotografou a "Dança do Urso" apenas por diversão. "Fui passar as férias de Natal com a minha avó, que ainda vive na cidade onde cresci. Ela e o meu avô, já falecido, cuidaram de mim até aos sete anos. Uma vez que estava lá, pensei em fotografar, sem qualquer pressão. Fotografei porque acho a tradição muito bonita e porque é uma das minhas memórias de infãncia preferidas. Quando parti da Roménia só consegui voltar duas vezes durante as férias de Inverno, por isso quase não vi a "Dança do Urso" enquanto adulta. E assim permaneceu na minha memória, como um evento anual mágico, muito excitante e feliz." O trabalho de Diana Zeyneb Alhindawi já foi publicado no "New York Times", "Al Jazeera America" e "CNN", entre outros; Diana foi considerada pela Lens Culture um talento emergente em 2014. Filha de pai iraquiano e mãe romena, Diana testemunhou o percurso da sua família enquanto refugiada política na antiga Joguslávia, o que a motiva actualmente no desenvolvimento de projectos fotográficos na área dos direitos humanos e da ajuda humanitária ("Médicos Sem Fronteiras" ou "Cruz Vermelha" são algumas das organizações com que já colaborou). Apesar da profissão de fotógrafa, a emigrante romena no Canadá terminou dois cursos superiores que nada têm a ver com essa área: um em Economia e outro em Neurociências. Ana Marques Maia