Fotografia
A doença mental que se esconde nas casas chinesas
Yuyang Liu tem 23 anos e foi o vencedor da edição de 2015 da Bolsa "Ian Parry", uma competição anual internacional que premeia jovens fotógrafos até aos 24 anos de idade ou alunos de fotografia 'full-time' com uma bolsa de 3500 libras, com a publicação do projecto no Sunday Times Magazine e com material fotográfico. O chinês Yuyang Liu deu início ao projecto "At Home with Mental Illness" em Janeiro de 2015 com o intuito de retratar as famílias chinesas de Guangdong que não têm opção senão cuidar, dentro de suas casas, dos seus familiares com doença ou perturbação mental. O P3 conversou com o jovem fotógrafo que referiu que a China "não tem dinheiro suficiente para construir tantos hospitais psiquiátricos" e que "a assistência médica dirigida à doença mental ou doenças raras é ineficaz". Em 2014, refere, foram diagnosticados 16 milhões de casos de doença mental severa e 80% dos pacientes diagnosticados não recebem tratamento através do sistema de saúde chinês. Durante o período de desenvolvimento do projecto, nas aldeias e vilas da província de Guangdong, Yuyang conheceu histórias de pessoas que vivem no limiar da salubridade e no limite das suas forças: "Mei Lin tem 83 anos e vive na companhia de quatro doentes mentais. Ela toma conta sozinha de quatro doentes e faz tudo o que pode para apoiar a família: cozinha e limpa. Yueyi Ou urina constantemente na sala-de-estar ou no quarto. Mei Lin diz-me sentir-se desesperada e chora." Refere um outro caso, o de Shaoping Xiao: "A Shaoping deseja ser bonita e todos os dias se maquilha no seu quarto que está empilhado de lixo. É tocante. Ela vive no seio de uma família muito pobre, a sua mãe tem doença mental, mas nada disto conseguiu conseguiu extinguir o seu amor pelo que é belo." A ideia de desenvolver um projecto sobre o tema surgiu quando o fotojornalista recebeu uma 'newsletter' de uma organização não-governamental chamada "Chronic Disease Prevention Centre" que dava conta do drama que vivem estas famílias. Graças à bolsa que recebeu, o fotógrafo poderá dar continuidade ao projecto e alargar o seu espectro de acção, com o objectivo de "sensibilizar para a questão da doença mental na China" e "explorar a relação única que existe entre estes doentes e as suas famílias e e a sociedade, em geral." Por acreditar que estes doentes "têm o direito de viver em condições diferentes", Yuyang criou uma campanha de recolha de fundos, recentemente, para ajudar a família Xiao; graças a essa campanha, a famíia pode agora colocar a sua filha com doença mental num infantário. O jovem pretende levar a cabo outras campanhas, mas admite ter ainda "um longo caminho a percorrer" no que toca este assunto na China. "Acho que a bolsa Ian Parry me traz alento e coloca um foco sobre este tema na China. Inclui-me também na família Ian Parry, o que leva alguns meios de comunicação internacionais a entrar em contacto comigo e a oferecer-me trabalho. Acho que este é o início da minha carreira internacional." Ana Maia