A sombra da Covilhã

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Chegou a ser conhecida como a Manchester portuguesa, dada a potência económica das 200 fábricas de lã que no passado agitaram a região e o país. Hoje, porém, a Covilhã mudou e o seu património físico e social reflecte essa transformação. Continua a ser uma cidade de extremos, muito fria no Inverno e muito quente no Verão, refém da sua proximidade com a Serra da Estrela. Continua a ter as íngremes subidas e descidas, que agora são calcorreadas pelos oito mil estudantes provenientes da Universidade da Beira Interior, hoje a força motriz da cidade. Vemos paredes com vida — heranças do Wool — mas já não há pleno emprego como outrora, pelo contrário. As fábricas estão em ruínas, o desemprego aumenta, as lojas antigas desaparecem e a cidade envelhece. "De certo modo, a Covilhã não é muito diferente da maioria das cidades portuguesas", conclui o fotógrafo português John Gallo, "inquisitivo" por natureza, ao descrever no seu site o ensaio "Falling From The Summit". Recorrendo a uma "luz dura" e às "sombras impostas pelos edifícios", tenta com este ensaio mostrar "o quão confortavelmente entorpecidos parecem estar estes cidadãos, resignados a viver com a escassez imposta por anos de gestão desonesta, pela concorrência desleal das economias emergentes e por quatro anos de cortes impostos pelo FMI e pela União Europeia". E, imaginando o futuro, o jovem de 36 anos que se divide entre Portugal e Inglatera, não deixa de se questionar sobre esta queda e sobre o possível papel dos estudantes. "Empenhados", por um lado, "em encontrar um lugar ao sol, aprendendo os segredos da lã", mas comprando e usando "roupas fabricadas no outro lado do mundo por marcas cruéis e sem escrúpulos. "(...) Pergunto se esses jovens rapazes e raparigas vão ser corajosos o suficiente para dar a volta e devolver à cidade o esplendor que já teve."