O "train surfing" não é um desporto e pode matar

Train surfer em acção. O fenómeno é generalizado em Joanesburgo.
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Train surfer em acção. O fenómeno é generalizado em Joanesburgo.

"O meu nome é Tweba, tenho 22 anos e sou 'train surfer'. Faço 'train surfing' porque... Posso dizer que é uma assunção de suicídio porque me posso ferir, há gente que morre. Para alguns de nós é apenas um desporto. As pessoas não compreendem, mas é uma forma de expressar sentimentos." Este é o testemunho de um residente de Ketlehorn, onde a actividade tem centenas de adeptos. Trata-se de uma forma de entretenimento ilegal, radical e perigosa practicada por jovens exclusivamente do sexo masculino que consiste em andar à boleia nas laterais e no topo das carruagens dos comboios. A maioria dos surfistas são estudantes e é no percurso entre a escola e casa que arriscam a vida a troco de uma descarga de adrenalina. Correm perigo quando não conseguem evitar obstáculos laterais, quando são projectados ou quando entram em contacto com os fios de alta tensão que acompanham a linha. A electrocução é uma consequência comum, assim como a amputação de membros. A série fotográfica "Staff Riding" (gíria local para "train surfing") foi criada pelo italiano Marco Casino, que descreveu Ketlerhorn como uma região violenta, extremamente pobre, com elevadas taxas de toxicodependência e grande incidência de HIV. O autor descobriu o fenómeno através da internet. "Comecei a pesquisar e descobri que o 'train surfing' abrange até cinco países. A África do Sul era o local ideal para trabalhar esse tema porque os comboios são o principal meio de transporte." A sua integração na comunidade foi difícil, a princípio: "As pessoas não estão habituadas a ver um homem branco na rua, especialmente empunhando uma câmara, a tirar fotografias e a tentar descobrir detalhes das vidas pessoais dos habitantes. Os vigilantes da estação de comboio impediram-me de filmar três dias porque o "train surfing" é uma actividade ilegal na África do Sul." O projecto "Staff Riding" integra um projecto de longa-duração - ainda a decorrer - sobre Ketlehorn e sobre a forma notável como se insurgiu contra o apartheid. O fotógrafo multimédia - assim se auto-descreve o italiano - venceu o World Press Photo de 2014, com uma peça em vídeo sobre o "staff riding".

Train surfing.
Train surfing.
Train surfing.
Trabalhadores exaustos descansam no regresso a casa.
Rua Katlehong
Sibusiso Linda ficou ferido em 2007 num cabo de alta tensão. Perdeu um braço e uma perna.
Estudante regressa a casa de comboio, o meio de transporte mais comum.
Edi Linda - 31 anos - é o fundador de uma ONG que consciencializa para os perigos da actividade.
Sibusiso Linda na casa dos seus pais em Kwesine, Katlehong - Joanesburgo.
A fronteira entre a estação de Katlehong e um cemitério.
Train surfing.
Estudante após a cerimónia de formatura do ensino secundário.