Ponta Delgada, 2011. As pessoas de um bairro torceram o nariz à invasão do festival Walk&Talk, na sua primeira edição. A pintura nasceu, os moradores ajudaram a cortar o cordão umbilical, cresceram com a obra de Smile1art e afeiçoaram-se. Há pouco tempo, e por razões estruturais, a parede teve que ser recuperada e a pintura destruída, motivando a indignação das pessoas, que protegiam o mural como um vizinho — e que só descansaram quando este ano viram a mesma parede ser entregue à argentina Hyuro, que há dias se despediu de uma "ilha mágica". O Walk&Talk tem histórias, criou memória. Temos um mapa na mão que nos conduz através da ilha de São Miguel e, encostados às paredes coloridas, temos moradores, vizinhos, guias, verdadeiros especialistas na arte urbana — dizem que lhes pertence. Muitos deles estiveram lá, assistiram a tudo, ajudaram a montar o andaime, pegaram nas latas e nos rolos e alimentaram os artistas. Muitos já são artistas. Alguns foram imortalizados em obras de arte. Todos vivem diariamente com os murais, habituaram-se a eles, contemplam-nos e exibem-nos com orgulho a quem passa.