"A escolha é entre existirem livros fotocopiados ou não existirem alunos licenciados”

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Estudantes universitários gastam em média 105 euros a fotocopiar livros, por ano lectivo, segundo um estudo do ISCTE Paulo Pimenta

É um cenário que não deixa antever um futuro risonho para o sector livreiro: em média, de todos os livros que os estudantes lêem por ano, 43% são fotocopiados.

Os dados são de um estudo encomendado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) ao Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa e apresentado nesta sexta-feira, em Lisboa. Em “Estudo do Sector de Edição e Livrarias e Dimensão do Mercado da Cópia Ilegal”) concluiu-se que o prejuízo causado pela cópia ilegal é de 63,57 milhões de euros na venda a retalho. As editoras perdem por ano 35,5 milhões de euros.

A prática é ilegal, mas os estudantes dizem que não conseguem fugir “à fotocópia” por causa do preço dos livros originais. “Não conseguimos suportar a factura”, justifica o presidente da Associação Académica de Coimbra, Ricardo Morgado. “O custo do transporte e da alimentação aumentam, as propinas aumentam, as bolsas de acção social diminuem”, diz. “A crise não atinge só os mais carenciados, estende-se também à classe média.”

A falta de alternativas é apontada também pelo presidente da Associação Académica de Lisboa, Carlos Veiga. “Os livros são muito caros. E a escolha é entre existirem livros fotocopiados ou não existirem alunos licenciados”, garante.

Para os estudantes, o problema reside, muitas vezes, no facto de os professores exigirem a consulta de livros técnicos – que em algumas áreas custam centenas de euros – e não optarem por outras soluções mais baratas, como as sebentas. “O poder que o professor tem para construir o plano curricular pode causar uma variação muito grande”, salienta Carlos Veiga.

Mas afinal quanto é que os estudantes gastam em fotocópias de livros? Segundo o estudo, cada estudante terá gasto em média 105,90 euros no ano lectivo 2010/2011. Em Lisboa e no Porto, esse valor é superior (125 euros) face ao resto do país (95,40 euros).

O preço médio do livro recomendado dirigido ao ensino superior é elevado (36,50 euros). Mas tudo depende das áreas. Os estudantes de Direito, Ciências Sociais e Humanas e Gestão são, revela o inquérito, os que mais gastam em fotocópias de livros. As cópias, conclui, constituem 45% das fontes de estudo. Os métodos mais utilizados para fazer fotocópias são “deixar de um dia para o outro num estabelecimento”, o livro já se encontrar digitalizado na loja, e “existir em formato digital, sendo transferido entre amigos”.

Quem mais ganha com isso são os centros de cópias, que têm já uma estratégia organizada para responder às necessidades dos estudantes. “Há casas sofisticadas, com servidores em sítios diferentes daquele onde está a impressora. Outras têm carrinhas à porta onde guardam as cópias. Os fiscais têm de conhecer esses truques”, alerta Pedro Dionísio, coordenador do estudo e director do Departamento de Marketing, Operações e Geral do ISCTE.

Do outro lado, estão as editoras. O número divulgado pelo estudo é “alarmante” mas só dá corpo a uma realidade sentida há muito no sector, diz o secretário-geral da APEL, Miguel Freitas da Costa. Em 2011 as editoras tiveram uma quebra de 5,5% nas vendas de livros para o ensino superior, em comparação com 2010, revela o estudo.

“É preciso alterar a lei e fazer uma verdadeira fiscalização”, afirma Pedro Dionísio. Os investigadores sugerem a “revisão urgente” do código de direitos de autor, tal como já aconteceu em Espanha e França, e da lei da cópia privada, estimulando o encerramento de casas de fotocópias que pratiquem este tipo de crimes – identificaram 510.

Sobre o preço dos livros, Pedro Dionísio deixa uma reflexão: “Quanto mais fotocópias se fizerem de um livro, mais caro ele será.” A cópia, sublinha, “é um factor que incrementa o custo do livro, também porque faz diminuir o número de livros editados”.

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