Os navios também poluem o ar mas escapam às estatísticas quando a costa está longe

No Dia Mundial dos Oceanos, a associação ambientalista Zero revela que a poluição do ar provocada pelos navios que atravessam o Mar Mediterrâneo junto à costa portuguesa é quase equiparável à poluição terrestre, mas invisível nas estatísticas oficiais.

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Jorge Silva

Na contabilização de emissões reportadas a instituições europeias e internacionais, a poluição atmosférica do transporte marítimo internacional não é tida em conta. Na verdade, os valores oficiais disponibilizados apenas consideram os gases poluentes emitidos dentro das fronteiras de cada país.

“Por exemplo, se nos referirmos a uma viagem de barco entre Lisboa e Porto, a poluição atmosférica é contabilizada na sua globalidade. Mas caso o destino seja Amesterdão, as emissões de Lisboa entram nas contas nacionais e as de Amesterdão nas holandesas”, exemplificou o director da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, Francisco Ferreira, em declarações ao PÚBLICO.

Através do Marine Traffic, a associação ambientalista estimou o número médio de navios que passam na Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal Continental, na rota que liga o norte da Europa ao Mediterrâneo Norte. Diariamente, são cerca de 110 navios de carga, 30 petroleiros e dois grandes navios de cruzeiro.

De seguida, com base no inventário de emissões atmosféricas da Agência Europeia de Ambiente, constatou que o peso dos principais gases poluentes emitidos por tais navios pode ser bastante significativo na avaliação da qualidade atmosférica nacional. “Ao dióxido de enxofre normalmente contabilizado, é acrescida uma percentagem de 85% e ao óxido de azoto 50%”, explica o especialista.

Francisco Ferreira diz que a Comissão Europeia já foi alertada para esta questão, mas não secundariza o papel do Governo português. A Zero calcula que se as restrições de dióxido de enxofre e óxido de azoto - em vigor no Mar Báltico, Mar do Norte e no Canal da Mancha - fossem aplicadas no Mar Mediterrâneo, os níveis actuais destes poluentes poderiam diminuir 93% e 23,5%, respectivamente.

A má qualidade do ar é identificada pela Organização Mundial de Saúde como a principal causa de mortalidade por razões ambientais à escala europeia. Estudos recentes, citados pela associação ambientalista, constatam que a poluição atmosférica associada à navegação internacional causa aproximadamente 50 mil mortes prematuras, com um custo anual para a sociedade de mais de 58 mil milhões de euros.

Texto editado por Ana Fernandes

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