Em Peniche, os "caloiros" vão limpar a praia

A praxe do Instituto Politécnico de Leiria quer apostar em actividades de cariz social e afastar a humilhação associada às actividades entre "caloiros" e "veteranos".

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Objectivo é acabar com a "praxe tradicional" Diogo Baptista/Arquivo

Praxar e ser praxado: sim ou não? A discussão já dura anos e o debate volta sempre à mesa. As críticas contra esta “tradição” académica multiplicam-se, mas há universidades e politécnicos a apostarem numa “praxe alternativa”. É o caso do Politécnico de Leiria que este ano quer os alunos do primeiro ano da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar a limpar a praia Gâmboa, em Peniche.

“As praxes académicas podem ter um papel relevante na integração dos novos estudantes”, assume Nuno Mangas, presidente do Politécnico de Leiria. O objectivo é que as actividades “funcionem como um ponto de apoio aos que chegam pela primeira vez ao ensino superior e em especial aos estudantes deslocados”, continua.

“Muitas vezes estes momentos ajudam os recém-chegados na procura de alojamento, no conhecimento da cidade e dos seus recursos, e na sua integração na Escola e no curso”, avalia Nuno Mangas.

No entanto, ao contrário da praxe “mais tradicional”, que se repete em desfiles pelas ruas, de pulmões abertos e com os “veteranos” a atribuírem “tarefas” aos “caloiros”, a estratégia da Comissão de Praxe do Instituto Politécnico de Leiria quer transformar a praxe numa actividade “mais solidária, cívica e ecológica”.

“Os estudantes que participarem, fazem-no de livre vontade, e com espírito de solidariedade”, explica a Comissão. O objectivo é criar laços entre os novos alunos, numa actividade de grupo que pretende ter também um papel social.

Com esta e outras iniciativas semelhantes, queremos mostrar que as praxes podem ser solidárias e não de humilhação, e ter um propósito nobre, como o de limpeza de um espaço que é de todos», detalham os responsáveis da Comissão.

A Comissão já preparou os sacos do lixo e luvas e a iniciativa acontece na próxima terça-feira, dia 4 de Outubro, a partir das 18h.

Leiria não é um caso isolado. Cada vez mais, comissões e instituições têm procurado alternativas às actividades de recepção aos novos alunos praticadas. Este ano, também o Politécnico de Castelo Branco quis apostar em iniciativas solidárias e foi mais longe ao abolir a praxe nas seis escolas da instituição. Também em Lisboa, grupos de estudantes organizaram-se para ajudar a integrar os novos alunos. Na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, na mesma onde nasceu o movimento anti-tradição académica (MATA) surge este ano o AlternAtiva, um movimento que acontece no primeiro mês de aulas, mas pretende organizar outras iniciativas ao longo do ano. Apesar de contar com membros que são assumidamente críticos da prática de praxe, o grupo garante receber, de igual forma, alunos que escolham ser também praxados.Também em Coimbra, desde 2014. os estudantes querem integrar os novos alunos com actividades culturais, desportivas e debates entre apoiantes e críticos da praxe académica.

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