Um rio no Canadá desapareceu em quatro dias. Culpa do aquecimento global

O rio mudou de curso e fez com que o fenómeno fosse apelidado pelos cientistas como sendo o primeiro caso testemunhado de “pirataria fluvial”.

Foto
O rio Slims, antes de o curso de água ter mudado de rumo DR

O célere derretimento de um dos maiores glaciares no Canadá, na região de Yukón, fez com que o rio Slims desaparecesse em quatro dias. O fenómeno foi provocado pelo desvio total do curso de água para um outro rio durante o final de Maio do ano passado, ainda que só tenha sido divulgado esta segunda-feira na revista Nature Geoscience. No artigo científico, estima-se, com 99,5% de certeza, que o derretimento do glaciar e subsequente mudança de rumo do rio são atribuídos às alterações climáticas.

Este fenómeno – em que as águas de um rio são redireccionadas para um novo curso – é conhecido como “pirataria fluvial” (ou river piracy, em inglês). Apesar de os geólogos acreditarem que este fenómeno já tenha acontecido no passado, nunca tinha sido documentado e, sobretudo, nunca tinha acontecido de uma forma tão repentina. “Que saibamos, nunca ninguém tinha documentado isto nos dias de hoje”, disse um dos investigadores, Dan Shugar.

Anteriormente, o rio – que atingia os 150 metros de largura – desaguava no rio Kluane, em direcção ao mar de Bering. Só que o degelo acelerado do glaciar de Kaskawulsh durante a Primavera de 2016 fez com que as águas derretidas fossem redireccionadas para um outro rio, fazendo com que as águas acabem por desaguar perto do Golfo do Alasca, a milhares de quilómetros do seu destino original.

Em suma, as águas derretidas do glaciar não estavam a ser divididas entre os dois rios – como acontecia anteriormente – mas seguiam unicamente numa direcção. Em vez de as águas do rio fluírem para oeste, começaram a jorrar para o sul do país.

Foi uma equipa de cientistas que, durante anos, analisou o derretimento do glaciar que reparou no que estava a acontecer. “Fomos ao local para continuar a tirar medidas no rio Slims, mas encontrámos o leito do rio mais ou menos seco”, conta ao The Guardian James Best, um geólogo da Universidade de Illinois e um dos autores do estudo. Perante a dificuldade em visualizar o que acontecia do outro lado do glaciar, a equipa de investigadores utilizou um helicóptero e drones para melhor entender o que estava a acontecer.

Anteriormente, os dois rios eram quase do mesmo tamanho. Mas, agora, o rio Alsek – que é considerado Património Mundial da UNESCO – está 60 a 70 vezes maior do que o rio Slims.

Os cientistas alertam que face à iminência dos perigos do aquecimento global, este tipo de fenómenos relacionados com a pirataria fluvial pode tornar-se mais frequente. Pode influenciar gravemente a biodiversidade e afectar as populações que morem a jusante e estejam dependente do rio. 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários